Em seus mais de dez anos de existência, a 'Tormenta' é conhecida no underground nacional por executar um thrash metal cadenciado e, ao mesmo tempo, visceral. Contudo, o maior diferencial é o que está sobreposto a este instrumental, os vocais cantados apenas em português.
Apesar do longo tempo de vida, os paulistas de Ribeirão Preto lançaram apenas um registro - o EP 'Tormenta' (2006) - e, mesmo com uma boa aprovação da crítica, o grupo passa por um jejum de seis anos sem material inédito. Todavia, a 'Tormenta', que hoje tem em sua formação Rogener Pavinski (vocais/guitarra), Flávio Santana (guitarra), Fernando "Muttley" (baixo) e Rafael Rissato (bateria), prepara-se para voltar totalmente a ativa e concluir o seu debut.
Apesar do longo tempo de vida, os paulistas de Ribeirão Preto lançaram apenas um registro - o EP 'Tormenta' (2006) - e, mesmo com uma boa aprovação da crítica, o grupo passa por um jejum de seis anos sem material inédito. Todavia, a 'Tormenta', que hoje tem em sua formação Rogener Pavinski (vocais/guitarra), Flávio Santana (guitarra), Fernando "Muttley" (baixo) e Rafael Rissato (bateria), prepara-se para voltar totalmente a ativa e concluir o seu debut.
Rogener Pavinski, líder da banda, conversou comigo e, além de revelar a situação atual da 'Tormenta' e o uso da tecnologia a favor das bandas, também compartilhou suas polêmicas opiniões sobre a hegemonia da língua inglesa no heavy metal nacional.
Rogener Pavinski |
Hangover-Music: As impressões do EP foram bem positivas. Porém, desde o seu lançamento, já passou-se mais cinco anos. Em que aspectos a 'Tormenta evoluiu' nesse tempo? O público poderá esperar uma sonoridade parecida no 'debut'?
Rogener Pavinski: Parecida sim, mas não a mesma. Pode-se esperar por uma evolução - sim, queremos evoluir! Como o nosso EP teve apenas cinco músicas - fora a introdução ("Pralaya") e uma música instrumental "Prelúdio do Fim" -, no “debut” teremos mais composições e, através delas, poderemos mostrar mais claramente a nossa música. Posso dizer que nosso som amadureceu, mas manteve a 'dureza' e agressividade... Porém, agora usamos mais melodias e também temos adicionamos um pouco mais de complexidade nas composições. No futuro, ainda podemos explorar mais possibilidades, pois temos somente cinco músicas finalizadas, no momento.
HM: Aproveitando... desde então o que,
resumidamente, o 'Tormenta' passou?
RP: Passamos dois anos divulgando o EP com shows. Logo após, tivemos um ano de pausa - devido a saída do antigo baterista (Ricardo Minutti) - e, desde que ele foi substituido por Rafael Rissato, já reunimos dois anos de atividades. Entrementes, relançamos nosso site oficial, lançamos camiseta da banda, também fizemos o vídeo-clipe de “Destruição Fatal", que venceu um concurso - no qual ganhamos apoio em acessórios musicais. Além disso, abrimos perfis em redes musicais/sociais e disponibilizamos nosso EP online para ser baixado ao preço de um tweet.
“As próprias bandas que insistem em cantar em inglês são as grandes culpadas do
metal não ser relevante para a grande mídia no país. A cena, no Brasil,
poderia ser muito melhor não fosse a auto-sabotagem das bandas... e isso não se
resume somente as letras.”
HM: A propósito, essa forma de divulgação do EP foi bem criativa. Como surgiu a ideia de 'vendê-lo' através do twitter?
RP: Apesar de não ser um expert, sou muito
ligado em tecnologia e sempre procuro saber de
novidades nessa área. Há alguns anos, pouco depois do surgimento do twitter - época em que ele ainda não era muito conhecido no Brasil -, fiquei
sabendo desse serviço (“Pay with a tweet”) acompanhando notícias. Eu achei a ideia muito interessante e
pensei que no futuro poderia me ser útil. Bem, quando decidimos colocar o EP
disponível para download foi a oportunidade de usá-lo! É sensacional, pois quem
baixa ajuda a divulgar. Acredito que fomos os pioneiros, aqui no Brasil, a usar esse método.
HM: Falando do som da 'Tormenta', digamos
que o chamariz da banda sejam as letras; afinal, elas são 100% em português.
O que motivou essa decisão?
RP: Eu
acho engraçado quando perguntam o motivo de cantar em português... quando a pergunta
deveria ser “porquê NÃO cantar em português?”. Eu nunca nem sequer considerei a
possibilidade de cantar em inglês. Seria um castramento estúpido. A música é
expressão. Não quero mascarar o que tenho a dizer. Está ali, na lata! Sem erro
de tradução.
“Cantar metal em português é mais
difícil sim, e por esse mesmo motivo muito mais desafiador e instigante. (...) Com certeza novos temas não vão faltar no futuro. O ser humano e
suas mazelas são um caudal inesgotável de temas.”
HM: Ainda neste assunto, qual é a sua opinião a respeito da hegemonia de
letras em inglês no metal nacional?
RP: Poderia
escrever uma dissertação sobre isso, mas vou resumir... Eu já disse em outras
oportunidades que, na verdade, a grande maioria das bandas não tem nada para
dizer, e copiam outras bandas usando o inglês para mascarar a pobreza de suas
letras. Cantar em português é mais complicado, dá mais trabalho. Alguns grupos tem
preguiça - ou vergonha - e fazem o mais fácil, 'mascaram' as letras. As próprias bandas que insistem em cantar em inglês são as grandes culpadas do
metal não ser relevante para a grande mídia no país. A cena, no Brasil,
poderia ser muito melhor não fosse a auto-sabotagem das bandas ...e isso não se
resume somente as letras.
HM: Voltando ao ao som da 'Tormenta'... A
maioria das faixas já conhecidas são bem diretas. Contudo, a música 'Tormenta' apresenta ideias mais
complexas e é dividida em três partes... praticamente um épico. Até que ponto a
proposta inicial da banda, em fazer um som mais direto, se relaciona com o
futuro material? Quero dizer, poderemos esperar guitarras limpas e vocais menos
agressivos - por exemplo, na própria 'Desprezo e Ganância' temos vocais mais limpos - no futuro?
RP: Com
certeza! Acho que uma das grandes falhas das bandas de thrash metal, é não se preocupar em
trabalhar o vocal. Sei que não sou um vocalista com
grande capacidade vocal, mas quero me esforçar em melhorar, evoluir nesse aspecto. Em relação as guitarras limpas, partes acústicas ou vinhetas instrumentais,
com certeza aparecerão. Não teremos músicas divididas em três partes novamente, porém poderemos, talvez, explorar outras possibilidades... e já tenho algumas ideias em
mente para isso.
“É
dificil dizer como as influências moldam nossas próprias composições, pois isso
acontece de uma forma subjetiva, embora não há como fugir delas. Não copiamos
ninguém e seguimos nosso próprio sentimento na hora de compor tentando deixar
as ideias fluirem.”
HM: Dando prosseguimento
a questão lírica... os temas das letras da 'Tormenta 'são típicos do thrash
metal, retratando bem sentimentos e situações negativos, como a raiva e a própria
auto-destruição do homem. Como é o seu processo de composição?
RP: A
composição é algo complexo e fascinante. Cantar metal em português é mais
difícil sim, por isso torna-se mais desafiador e instigante. Para mim, é um
grande prazer escrever letras. O thrash metal é um estilo musical furioso e
raivoso. As letras tem que seguir a proposta, mas isso não significa que temos
que nos limitar a certos clichês. Durante o meu processo, faço rascunhos quando sinto a
necessidade de escrever. Pode ser um fato que me deixou com raiva, triste,
revoltado ou que me faça sentir o impulso de por ideias vagas. Vou acumulando diversos rascunhos... que as
vezes não tem nada a ver com outro. Quando temos uma composição nova, procuro neles
algum indício de tema que combine com esta nova música. Daí, a partir dos rascunhos,
vou reescrevendo, organizando, criando as linhas vocais e adaptando de acordo
com a métrica destas.
HM: ... e que
outros temas você gostaria de tratar no futuro?
RP: No próximo trabalho vamos poder explorar mais
diferente temas. Nas composições que já estão concluidas, falo sobre a escravidão do
homem ao dinheiro e as posses materiais, exploração religiosa, abuso de poder e, também, sobre perseverança - algo que é indispensável para quiser levar a sério uma banda. Estou
escrevendo agora uma nova letra - um compêndio sobre a
vida e a dor. Com certeza novos temas não vão faltar no futuro. O ser humano e
suas mazelas são um caudal inesgotável de temas.
“Acho
que essa conversa de “apoio as bandas” e "apoio a cena” algo clichê e sem
sentido. As coisas
mudam. A música, as bandas, os fãs, e todo o cenário mudaram! ”
HM: A 'Tormenta' transpira influências do thrash metal oitentista, inclusive lembrando
o próprio cenário brasileiro da época. Afinal, quais são as influências da
banda e como elas moldam suas composições?
RP: Não
há estilo mais fascinante e empolgante do que o thrash metal. E ele pode ser
adaptar em muitas maneiras. Por exemplo, veja o 'Megadeth' e o 'Destruction'... são
bandas completamente diferentes e, mesmo assim, podem ser definidas como thrash metal. Já as influências da banda variam de
acordo com o integrante. Falando sobre eu e o Flávio (guitarrista), os principais compositores, podemos dizer que elas basicamente se convergem em
'Slayer' e 'Kreator'. É
dificil dizer como as influências moldam nossas próprias composições, pois isso
acontece de uma forma subjetiva, embora não há como fugir delas. Não copiamos
ninguém e seguimos nosso próprio sentimento na hora de compor tentando deixar
as ideias fluirem.
HM: Bem, e as suas influências
externas e atípicas? Poderiam elas serem responsáveis, no futuro, por algum 'acréscimo' no som da 'Tormenta'?!
RP: Você
só está perguntando isso porque descobriu que sou fã de Nelson Gonçalves (risos)! Bom, nesse aspecto não tem como influenciar... pois são mundos completamente diferentes. Em
alguma parte acústica, talvez alguma influência de música clássica ou barroca
possa aparecer, mas isso já é comum no metal. Eu escuto muitos estilos
diferentes, mas tenho consciência do tipo de música que quero fazer com a
Tormenta. O "estilo Tormenta” aparece naturalmente na hora de compor.
HM: Qual a sua opinião a respeito da 'perda de qualidade da cena' e a dita 'falta de apoio' do público para com as bandas nacionais?
RP: Acho
que essa conversa de “apoio as bandas” e "apoio a cena” algo clichê e sem
sentido. As coisas
mudam. A música, as bandas, os fãs, e todo o cenário mudaram! Mas muita gente
ainda continua com o pensamento no passado. O público só “apoia” algo que
gosta. O fã só vai comprar o álbum e ver um show de uma banda que lhe agrade.
Hoje em dia existem muitas bandas, mas qual delas tem diferencial e qualidade
para cativar o público? Falando do thrash metal, eu não tenho ouvido nada que me surpreenda no estilo no páis, infelizmente. O que vejo é muito repetição
e cópia.
Performance, em 2008, no 'Roça N' Roll' (Varginha-MG) |
HM: Quais foram os shows e participações em festivais mais
importantes para a Tormenta? Como foram essas experiências e como
você avalia os atuais festivais de heavy metal no Brasil?
RP: Todos os shows para nós são importantes, desde que haja pessoas que
curtam nosso som. Não posso deixar de mencionar, no entanto, os
festivais que tocamos ao lado de grandes bandas e que, por isso,
tivemos grande público, como 'Metal Rebellion' - ao lado de
'Korzus', 'Imago Mortis' entre outros -, 'Araraquara Rock' - ao lado do 'Ratos
de Porão', 'Tributo ao Sarcófago' - 'Roça n' Roll', 'Kunvenaro'... entre
outros. Talvez, os mais marcantes foram os shows de retorno da
banda após os nossos períodos sem atividade... O de 2005, no Metal
Rebellion, e o de 2010, no 'Bigorna Rock Fest', pois nesses shows,
podemos sentir toda a energia do publico de volta após essas pausas
'forçadas'.
HM: Para encerrar, como você definiria a fase e a formação atual da banda?
RP: Estamos
nos preparando para dar um grande passo em direção a nosso primeiro álbum; embora, no nosso caso, seja um processo muito lento. A formação é a melhor que podemos ter, pois é formada por aqueles que ainda tem disposição em dar suor e
sangue em nome da banda. Há 13
anos nessa brincadeira, com certeza tivemos erros. Mas sempre tentei fazer o
certo e o melhor. Não tenho nenhum arrependimento, pelo contrário! O que mais
sinto, o que poderíamos ter feito melhor, seria ter mantido mais consistência
ao longo dos anos. Mas é muito difícil para nós, todos temos que trabalhar para
sobreviver e, nesse contexto, a banda nada mais é do que um “hobby”, um luxo,
que apesar de todas as dificuldades e problemas tentamos manter viva.
HM: Bem, obrigado pela
entrevista, Rogener!
RP: Quero
agradecer pelo espaço que você nos dá, mesmo nesse momento de baixa, pois já há
algum tempo que já não temos muitas novidades. Passamos por um final de ano (2011) e começo (2012) bem dificil em relação a banda. Espero que
consigamos nos recuperar de vez, pois estamos preparando um material muito bom
para nosso próximo álbum!
Para outras informações, acesse:
www.tormentametal.com
Esta entrevista também pode ser vista em:
http://whiplash.net/materias/entrevistas/155518-tormenta.html
www.tormentametal.com
Esta entrevista também pode ser vista em:
http://whiplash.net/materias/entrevistas/155518-tormenta.html
Concordando com algumas coisas que o vocalista falou, outras não, foi uma ótima entrevista, e é sempre bom ver bandas que se esforçam sem ter como objetivo serem "rock stars" do metal.
ResponderExcluirAssisti os videos e achei interessante as musicas, achei o instrumental muito bem feito (o batera toca muito no clipe de Destruição fatal) e as letras parecem interessantes (não conferi o EP, ainda), apesar de como o vocal disse, contar em portugues é dificil, e tambem uma questão de gosto.
Mas independente disso, parabens à banda e boa sorte com o novo album.
"Eu já disse em outras oportunidades que, na verdade, a grande maioria das bandas não tem nada para dizer, e copiam outras bandas usando o inglês para mascarar a pobreza de suas letras."
ResponderExcluirFalou tudo!
Na minha opinião, é mais uma questão de costume. Acho que o público do gênero está tão condicionado a ouvir músicas apenas em inglês que, quando escuta em outro idioma, acha completamente estranho, fora da realidade.
ResponderExcluirEnfim, agradeço novamente o Rogener... o cara é gente boa pra caralho - e exigente com formatação hahaha
Breve pretendo retomar esse tema (metal em port.) de uma forma mais ampla. Aguardem. (:
Estou curtindo demais o EP de 2006 e espero com muita ansiedade o novo trabalho desta que é a melhor banda de "trash" do país e do mundo, não conheço outra mais legal! Metallica? Megadeth? System of Down? Destruction? As vezes esses enchem o saco, já a Tormenta sabe variar o som o tempo todo, você fica preso ouvindo-a até o fim! E o melhor de tudo, cantam em português!! Parabéns, vocês são demais!!
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