Cangaço durante a final no Metal Battle Brasil |
Após a experiência da apresentação no Wacken Open Air - o maior festival de heavy metal do mundo - o Cangaço regressa ao Recife com a certeza de que possui um diferencial em seu currículo.
Ainda em clima de comemoração, o grupo concedeu a entrevista abaixo:
Thiago Pimentel: O nome da banda associa diretamente o Cangaço com a região a qual vocês pertencem - o nordeste. Até onde, musicalmente e até liricamente, a música nordestina os influenciam?
Cangaço: O objetivo inicial do projeto era buscar uma identidade própria para o Heavy Metal do nordeste do país, por conta disso, tudo que remetesse como característica do folclore da região foi pesquisado e avaliado. Na música, essa influência se mostra na construção harmônica dos riffs e toda a riqueza que essa atmosfera propicia, encaixando muito bem com o peso do Metal, além da exploração dos diversos ritmos característicos. A temática lírica da banda tem menos influência.
Por enquanto os sentimentos refletidos nas músicas seguem uma linguagem mais universal e conflitos da realidade contemporânea. Sabemos da extensa riqueza das histórias relacionadas ao cangaço e ao nordeste, porém, sentimos que, no atual momento, devemos explorar nas letras assuntos mais próximos da realidade comum.
Há objetivo que tal influência seja permanente no som da banda? Ou existe possibilidade de vocês explorarem outros territórios?
R. Certamente desejamos aprender bastante sobre música brasileira e Metal, explorando a mistura de ambas, sabemos também o quão abstratas são as fronteiras da música universal. Em nosso som utilizamos, mesmo que inconscientemente diversas influências de música oriental que também remetem à música nordestina, materializando uma mistura que no fim das contas se mostrará como o som que desejamos fazer verdadeiramente. Não pensamos em limites para influências ou territórios.
Como surgiu a ideia de mesclar a música típica com o death metal? Houve inspiração em bandas de folk metal européias – que misturam a música extrema com o regional - ou a ideia foi genuína?
R. Seria uma grande mentira afirmar que a ideia é genuína pois vem sendo feita a décadas por grupos musicais das mais diversas regiões do mundo, escutamos muito folk metal europeu ao longo de nossa formação e, a ousadia de tais bandas, só serviu para nos inspirar quanto à possibilidade de quebrar os limites impostos à música. O documentário "Global Metal" é um excelente trabalho de como o metal se adapta a qualquer música de qualquer lugar do mundo. Nada se cria, tudo se mistura.
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A música
Ao vivo no Festival de Inverno de Garanhuns |
OBS: As demos da banda estão disponíveis para download gratuito no MySpace da banda.
Além do death metal, e o já comentado flerte com a música nordestina, nota-se que vocês vão realmente longe em suas composições. Há seções instrumentais que remetem ao prog e fusion, por exemplo. Quais são as principais influências da banda?
R. Que fique claro que nunca fizemos músicas pensando na dificuldade técnica ou para mostrar como prova quantas horas nos dedicamos ao estudo. Tentamos fazer o som que gostaríamos de escutar. Não temos o jazz e o prog como principais influências, gostamos de diversas idéias do Greg Howe, Victor Wooten, Guthrie Govan e outros monstros em seus instrumentos, mas começamos na música por causa do Metal e ainda o escutamos muito! Adoramos bandas como, Annihilator, Death, Sadus, Gojira (som e letras), Morbid Angel, Nile, Pantera, Sepultura, Tool, Primus, entre outras...
Como vocês definiriam a música atualmente praticada pelo Cangaço?
R. Pergunta mais difícil! Quando estávamos fazendo o myspace, surgiu a mesma pergunta na criação do perfil da banda. Sinceramente não sabemos. Em cada cartaz colocam um estilo diferente, death metal, thrash metal, heavy/thrash,, dentre outros, achamos que o que mais se aproxima é o death folk metal, mesmo que soe meio ridículo. Achamos melhor quem nos escuta rotular.
Por conta da proposta, algo que inicialmente pode-se imaginar é que o Cangaço faça letras em português. Essa opção já foi cogitada?
R. Não temos limitações quanto a nenhum elemento que possa ser incorporado, desde que soe harmônico e nos sintamos realizados em fazer. Temos muita vontade de explorar o idioma português com Metal, algo ainda raro, talvez devido a questões de mercado e comunicação global, mas sentimos que devemos isso ao país e certamente testaremos muito em breve.
Apesar do que é pobre tendencialmente fazer mais sucesso, existe no nordeste música boa e bons músicos vide Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Luciano Magno etc. O que vocês indicariam, dentro da música regional, para os ouvintes do Cangaço?
R. Fred Andrade, Ebel Perreli, Luciano Magno, Sivuca, Alceu Valença, Lula Côrtes, bandas como Ave Sangria, Cabruêra, Mandinga, Neural Code, Sotaque e infinitos outros músicos e projetos que só mostram o quão competente e diversificada é a música brasileira. Nós estamos constantemente tentando entendê-la.
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Nordeste no Wacken
Apesar do pouco tempo de banda, o Cangaço já conseguiu um feito inédito entre bandas pernambucanas, competindo com outros grupos brasileiras - em shows pelo Brasil - eles venceram a seletiva nacional do Wacken Open Air ganhando assim o direito de participar da edição principal, na Alemanha. Leve em consideração que o Cangaço ainda não lançou o primeiro álbum, possuindo apenas duas demos: “Parabelo” (2010) e outra demo auto-intitulada (2010) e esse feito ganha ainda mais notoriedade.
Recentemente o Cangaço alcançou um feito expressivo – a participação no festival Wacken Open Air. Como foi tocar pela primeira vez fora do país, e estreando em um festival tão grande?
R. Foi exatamente um sonho, um ano atrás nem imaginávamos tocar fora do país. Quando soubemos que iríamos ao Wacken e ainda tocar, ficamos um tempo meio desnorteados quanto a objetivos na vida, foi difícil manter o equilíbrio. A experiência de participar de um festival de tamanho porte além da confiança dos jurados brasileiros em nos dar essa vaga só serviu para nos dar a confiança necessária para investir naquilo que acreditamos. Levar o nome do Metal do Brasil e de Pernambuco para os quatro cantos do planeta.
Como foi a receptividade do público com o som de vocês? Há diferenças de comportamento entre o público europeu e brasileiro?
Arthur Lira no Wacken |
R. Foi inesperada, sabíamos da frieza do público europeu e estávamos preparados para uma multidão de braços cruzados. Não foi o que vimos. Não só alemães, mas, pessoas do mundo todo vão ao Wacken, tornando o festival num vortex de globalização. As pessoas curtiram e muitos vieram nos congratular após o show e elogiar a originalidade do projeto. Além do lugar ter se tornado o centro do Metal mundial, as pessoas curtem o estilo verdadeiramente, com bastante respaldo e opinião.
Sabemos que a participação no Wacken se deve a vitória da banda na edição nacional do Metal Battle. Como foi a experiência em participar de tal competição? Existe(m) outra(s) banda(s) que vocês acham que também merecia(m) tocar no Wacken?
R. Foi incrível, trocar informações com bandas de todos os lugares do Brasil e dos mais variados estilos foi uma experiência sem preço, todas viajaram vários quilômetros na busca dessa oportunidade e deram muito sangue nos shows. Acreditamos que das bandas que passaram à final (Warbiff, Khrophus, Survive, Warfx, Tierra Mystica), todas tinham condições de ir ao Wacken e lutar pelo título.
Qual a opinião da banda em relação a comentários maldosos que dizem que há jabá envolvido na escolha do vencedor nacional da competição?
Rafael Cadena no Wacken |
R. Já tínhamos ouvido algo parecido e também suspeitávamos de falcatruas na escolha do vencedor nacional. O que vimos lá foi a total e mais pura imparcialidade, primeiro que nem dinheiro tínhamos para comprar jurados e segundo que a banda começou em dezembro de 2009, das concorrentes era a mais nova. Até então ninguém conhecia o projeto e, fora o show que apresentamos, não tínhamos mais nenhum outro meio de conseguir o feito.
Apesar do grande feito não houve, em minha opinião, a divulgação merecida por parte da mídia local - creio que muitos desconheçam tal fato. Qual a opinião da banda a respeito do posicionamento da mídia - aqui e no Brasil - com a música que vocês praticam?
R. No Brasil, o Heavy Metal só apareceu nas grandes mídias em 1985 (Rock in Rio I), 10 anos depois do estouro na Europa e América do Norte, esse relativo atraso aliado a evidente alienação praticada pelas políticas sociais em relação a cultura e artes diferentes das criadas no país, só contribuem para essa falta de reconhecimento. Todas as bandas de Metal no Brasil passam por isso e só podem contar com a internet como meio de divulgação do trabalho. Único veículo que possibilita atualmente, pelo menos no Brasil, a busca pela informação desejada sem qualquer barreira ou censura.
A banda já possui duas demos, existe previsão de lançamento de mais alguma demo, EP e/ou primeiro álbum?
R. Atualmente estamos trabalhando na formulação de projetos para captação de verbas estatais afim de realizarmos um debut com a qualidade que verdadeiramente desejamos para os ouvintes.
Qual a formação musical dos membros do Cangaço? Pergunto isso pelo alto nível técnico das composições da banda.
R. Obrigado pelo reconhecimento. Rafael Cadena estudou no conservatório pernambucano e atualmente cursa música na UFPE, Magno Barbosa Lima estudou também no conservatório pernambucano e atua como freelancer em diversas bandas dos mais variados estilos já a alguns anos, Arthur Lira é autodidata e também atuou como freelancer em bandas na noite.
Já existe alguma proposta para uma turnê nacional/internacional?
R. Não, apenas shows avulsos que aparecem através de contatos pela internet. Nada fora do nordeste até agora, também estamos buscando alguém que faça esse trabalho de booking e agendamento de shows. A banda ainda está se estruturando nessas questões burocráticas
Para encerrar... quais álbuns e bandas vocês indicaria para um leigo - que não conhecesse a banda - ouvir antes de conhecer o Cangaço? E entre as músicas das bandas, qual aquela que vocês julgam melhor e indicariam?
R. From Mars to Sirius do Gojira, Annihilation of the Wicked do Nile, Maboo do Orphaned Land e o Domination do Morbid Angel são álbuns que todos da banda gostam e respeitam muito. Quanto a música sempre achamos a mais recente a mais interessante, atualmente é Statu Variablis que faz parte da segunda demo.
Gostaria de agradecer a banda pela oportunidade e prestatividade! Desejo sucesso e sorte, porque qualidade a banda já possui.
R. Muitíssimos agradecidos de coração pelo espaço cedido e pelo apoio, parabéns pelas perguntas. Só podemos garantir que daremos todo o sangue ao Metal nacional na busca pelo nosso espaço na cena. Sempre com a verdade como norte visando a evolução mental individual e coletiva através da arte.
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Formação:
Rafael Cadena - vocal / guitarra
Magno Barbosa Lima - vocal / baixo
Arthur Lira - bateria
Contato:
Telefones:
(81) - 8823-1491 - Magno
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