Brasilidade ao máximo em "Kaiowas"
Apesar dos álbuns "Beneath The Remains" (1989) e "Arise" (1991) introduzirem o nome do SEPULTURA internacionalmente, apenas após o lançamento de "Chaos A.D" (1993), quinto álbum da banda, o SEPULTURA atingiu seu amadurecimento musical, acrescentando brilhantemente a música regional ao seu som pesado e agressivo.
Inicialmente a ideia parece um tanto estranha, mas os elementos da música regional, tal como a influência de música tribal foram fundamentais em "Chaos A.D" e contribuiram para consolidar, de uma vez por todas, o SEPULTURA entre os grandes representantes da música pesada. "Kaiowas", quinta faixa do álbum, é certamente uma das peças mais intrigantes do disco.
A música é uma instrumental que difere de tudo que a banda já lançou, sendo bastante acessível - ela não traz todo o peso presente nas outras faixas de "Chaos A.D".
O nome da canção faz referência direta aos Caiouás (Kaiowá), povo guarani cujas aldeias distribuem-se em partes da Argentina, Bolívia e partes do estado brasileiro do Mato Grosso do Sul.
De acordo com a banda:
"Esta canção é inspirada por
Uma tribo indígena brasileira chamada "Kaiowas"
Que vivem na floresta tropical
Eles cometeram suicídio em massa
Como um protesto contra o governo
Que estava a tentar tirar a sua terra santa"
Musicalmente talvez seja uma das músicas mais interessantes já gravadas pelo grupo. Em apenas 3:43 a banda "passeia" em diversas vertentes da música brasileira, por exemplo: no uso de ritmos percursivos, é possível lembrar do maracatu; em outros momentos a canção remete a tradicional música caipira brasileira - observe o solo realizado por Andreas Kisser -; fora o todo o clima "tribal" e dissonante imposto na música em quase todo o tempo.
"Kaiowas" foi gravada em meio as ruínas do castelo medieval de Chepstow, na Inglaterra. Paulo Jr (baixista) completa os "duetos percursivos" em conjunto com Igor Cavalera (baterista).
Como curiosidade vale dizer que a banda não cogitou tocar essa canção ao vivo, porém ela foi reproduzida algumas vezes principalmente com auxílio de membros de outras bandas, como aconteceu com o PANTERA certa vez. Andreas Kisser (guitarrista) costuma tocá-la em apresentações solo, como workshops.
Existe ainda uma versão intitulada "Kaiowas (Tribal Jam)" gravada ao vivo no Mato Grosso com a participação dos índios xavantes. Trata-se de uma faixa-bônus disponível em apenas algumas versões do álbum - confira tal versão aqui. De certa forma "Kaiowas" - e o "Chaos A.D" como um todo - é uma espécie de prévia da influência indígena/tribal que viria com força total em "Roots" (1996).
Sepultura tocando Kaiowas ao vivo em 1996:
Comentários Finais:
É incrível que uma banda de metal, cujas letras são feitas em inglês, tenha feito uma das músicas mais brasileiras - em vários aspectos - que se tenha notícia. São poucos minutos que rompem inúmeras barreiras e limitações impostas por rótulos e apoiada - mesmo tratando-se de uma instrumenal - com um grande conceito por trás: o povo guarani. "Kaiowas" foi, e ainda é, um grande "cala boca" em quem resume o som da banda em barulho. O Sepultura conseguiu um grande feito, afinal trata-se de uma banda de metal explorando as raízes do Brasil e a espalhando mundo afora. Isso não é muito comum, certo? Posso dizer que é uma música que desperta o orgulho, ao menos em mim, de minha nacionalidade.
Conheci o som do Sepultura por volta de 1996 com o Arise, e logo depois comprei o recem lançado Roots, foi amor a primeira ouvida...hehehe....mas quando peguei o Chaos A.D. foi uma reviravolta lascada na minha vida, viciei no album em poucos segundo, e é ate hoje o meu preferido da banda. Primeiro subestimei Kaiowas, ela tem "batucada" e é instrumental (duas coisas que nao me agradam), mas quando ouvi, pela primeira vez, ja vi que a musica era muito foda, ela contagia, prende a pessoa do começo ao fim, apesar de ser diferente do "estilo Sepultura", considero um classico da banda. Meu CD do Chaos é esse com a Tribal Jam, que tambem ficou muito boa.
ResponderExcluirEssa e banda
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