domingo, 12 de junho de 2011

Resenha: Morbid Angel - Illud Divinum Insanus

Ano de lançamento: 2011

Não é novidade, para quem conhece a discografia dos americanos do "Morbid Angel", que o grupo jamais repetiu uma mesma fórmula musical em seus trabalhos, buscando sempre a inclusão de novos elementos. 


O "marco zero" da banda - "Altars of Madness" (1989) - apresenta death metal clássico em seu estado bruto numa época em que Trey Azagthoth (guitarras) e seus asseclas eram pioneiros na música extrema. Contudo, em lançamentos posteriores - sobretudo em  álbuns como "Covenant" (1993) e "Domination" (1995) - experimentalismos e fusões com outros subgêneros do heavy metal, em especial o doom, marcaram a obra do grupo que tornou-se conhecido por nuncar "estacionar" em sua zona de conforto.

"Illud Divinum Insanus", além de marcar a volta de David Vincent (baixo e vocais), também é resultado da espera de oito anos sem um álbum de inéditas. Tais fatores, incluindo o período "experimental" passado, fizeram os fãs acreditarem que teríamos aqui uma volta as raízes, ou um típico álbum "mais-do-mesmo" na hora certa. Uma faixa tocada ao vivo há mais de dois anos ("Nevermore") apontava, para o então futuro álbum, um caminho clássico, direto. Mas não, não foi isso que Trey planejou para o oitavo álbum da sua banda - ao menos não em sua totalidade...

"Omni Potens" é a faixa responsável pela abertura do álbum. Trata-se de uma introdução bem sinistra e doom, com os vocais graves de Vincent - a lá canto gregoriano - complementando o som dos teclados fúnebres de Trey, ao estilo "filme de terror".  Até então tudo nos padrões da banda,  certo? A primeira surpresa ocorre logo na próxima música ("Too Extreme!") que, em seu início, apresenta elementos industriais  e eletrônico. Destoando, consequentemente, do clima da  introdução e claro... assustando os desavisados. A conclusão é que "Too Extreme!" uma música pouco inspirada, totalmente experimental e forçada, com alguns momentos interessantes e... é apenas isso. Não entendi o motivo de sua inclusão após "Omin Potens", visto que ela além de não "fundir-se" bem com a intro, "assustará" boa parte dos ouvintes - ouvintes tradicionais da banda, obviamente - logo no início da audição do disco, pois além de tudo a faixa evoca influências de grupos não muito bem quistos, ao menos entre a maioria dos apreciadores do metal extremo, como "Rammstein" e "Marilyn Manson".


A terceira canção ("Existo Vulgoré") é uma das melhores: possui ótimos riffs e um refrão grudento - para os padrões de uma banda extrema, claro. Ótima faixa e uma excelente reciclagem do estilo clássico do "Morbid Angel". A produção do álbum mostra-se  decente, o que acaba favorecendo a compreensão das partes mais extremas, em especial nessa música. Tim Yung, substituto de Pente Sandoval - baterista da formação clássica, afastado por problemas de saúde -, realiza um grande trabalho, demonstrando técnica e chamando atenção, mesmo estando no lugar de um baterista conceituado no estilo.


"Blades for Baal", uma das contribuições do segundo guitarrista da banda (Destructhor), diminui o pé no acelerador - em relação a "Existo Vulgoré" - e apresenta momentos mais cadenciados. Seu refrão não é lá muito inspirado, em oposição ao grande solo de guitarra, mas cumpre o papel. Apesar de não soar tão tradicional quanto a faixa anterior, não apresente elementos experimentais em oposição a próxima música ("I Am Morbid") que logo em sua introdução fará radicais desistirem de ouvir o álbum. Tal composição, em minha opinião, é um caso de experimento que deu certo nesse álbum. Diferente das outras faixas experimentais, aqui a influência tende mais pra um "death n' roll" com influências modernas - inclusive com vocais em coro simulando um público. "Morbid" Angel bebendo da fonte do hard rock? Talvez. Mas "I Am Morbid" é bem interessante no geral, além de contar com um ótimo refrão e solo de guitarra - um dos melhores do álbum, inclusive.

Continuando "a veia mais tradicional", o álbum conta com: "10 More Dead", "Nevermore" e "Beuty Meets Beast".  A primeira possui riffs memoráveis, apesar de soar cansativa. "Nevermore", já citada, retoma a velocidade, sendo uma das faixas que mais chamará atenção de quem procura algo oldschool neste álbum. Todavia, os "ôÔôÔ" de Vincent aqui são, no mínimo, estranhos. Já "Beuty Meets Beast" remete a álbuns como "Domination" e, apesar dos bons momentos, soa cansativa.

As outras três faixas restantes - "Destructos Vs The Earth", "Radikult" e "Profundis - Mea Culpa" - são altamente experimentais, sendo a primeira um "techno death metal", praticamente. Bizarra. "Radikult" não foge muito da definição anterior, e "Profundis...", apesar de soar estranha, possui bons - e extremos - momentos. Se sai como uma faixa regular, em sua totalidade. Com certeza "Destructos...", "Radikult" e "Too Extreme!" representam os momentos mais "baixos" do disco.


Trey Azagthoth
 
No geral trata-se de um álbum bem ousado, quem imaginaria que o "Morbid Angel" faria uso de elementos eletrônicos, por exemplo? Obviamente a banda será acusada de vendida por diversos - e mais radicais - fãs. O álbum é ruim? Não. Perfeito? Não. Mas "crucificar" toda a obra apenas por conta das experimentações serem experimentações seria, no mínimo, idiotice. Sim, isso irá acontecer - na verdade já está.



A banda merece respeito por tentar inovardentro de sua proposta extrema. Contudo, algumas composições são, independente do experimentalismo, fracas e a distribuição das faixas, como comentado no início da resenha, é estranha. A sensação é que parte desse álbum parece um "EP" isolado e experimental, em oposição ao restante das composições. Em contrapartida a performance dos músicos é excelente, principalmente de Trey - que toca grande solos e riffs - e Vincent - que apesar dos anos segue com um dos melhores vocalistas do estilo. Vale a pena também mencionar a trabalhada arte da capa, realizada pelo designer brasileiro Gustavo Sazes.

Durante uma entrevista recente, David Vincent revelou que a banda pretendia, em "Illud Divinum Insanus", ampliar o conceito da música extrema. Terá o "Morbid Angel" conseguido tal pretensão? Farei uso de um clichê: - só o tempo dirá. 


Nota: 6,0

Músicas-chave:
"Existo Vulgoré" ; "10 More Dead" ; "Blades for Baal"




Formação: 

David Vincent   -  Vocais, baixo
Destructhor    - Guitarras
Trey Azagthoth    - Guitarras
Tim Yeung     - Bateria
 


Tracklist:

1.     Omni Potens     02:28    
2.     Too Extreme!     06:13
3.     Existo Vulgoré     03:59
4.     Blades for Baal     04:52
5.     I Am Morbid     05:17
6.     10 More Dead     04:51
7.     Destructos Vs. the Earth / Attack     07:15
8.     Nevermore     05:08
9.     Beauty Meets Beast     04:57
10.     Radikult     07:37
11.     Profundis - Mea Culpa     04:06


 *Esta matéria também pode ser vista em:
http://whiplash.net/materias/cds/132366-morbidangel.html

4 comentários:

  1. As boas são boas, as bizarras são bizarras.

    Nota: 7,0

    Lucas

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pela resenha! Acho que você conseguiu detalhar bem em palavras o conteúdo desse álbum "esquisito". É nota 8-9 pras músicas boas e 1-4 pras "experimentais". Curto Metal Industrial, mas se o Morbid Angel queria experimentar, devia ter lançado essa faixas em um EP ou de bônus. Bola fora...

    Gabai

    ResponderExcluir
  3. Perfeito! Acredito que o Metal em geral, hoje, merece ampliar seu conceito e não ter medo de levar a cabo o que pode engrandecer sua sonoridade. Parabéns ao Morbid Angel por nos trazer "sangue novo" ao Metal Extremo!

    ResponderExcluir
  4. Como o Morbid Angel tentou mais uma vez uma nova fórmula p/ o que faz (o que é altamente interessante num estilo que já vem numa mesmice há tempos) e sendo novo, significa exatamente andar por caminhos nunca trilhados, é claro que haveria o risco de algo não sair 100%. E foi o que aconteceu. Algumas músicas (como Radikult) não são boas, não pelo fato de serem "industrial", mas pelo simples fato de serem músicas ruins, independente de estilo. Mas, por exemplo, Destructos Vs The Earth", se saiu uma música excelente! Tão boa que foi a melhor música que dava p/ se trabalhar bem nas remixagens, o que aconteceu (o remix do Combichrist ficou muito bom!). Agora, eu botei ali em cima industrial entre aspas, pq no Metal, se habitou-se a chamar certas bandas de industrial ou industrial metal, mas quem conhece Industrial mesmo, sabe que essas bandas de Industrial não tem nada (escutem Test departament, por exemplo e vc's atestarão o que falo). O fato de uma banda colocar samplers em sua música, não faz dela uma banda de Industrial metal. O certo seria eletronic metal, ficaria mais próximo do que essas bandas no fundo fazem.

    ResponderExcluir