Metal cantado em Tupi Antigo e com influências de música tribal brasileira?! Inicialmente, a proposta pode parecer ousada, confusa e, até mesmo, impensável. No entanto, o grupo brasiliense Arandu Arakuaa – em tupi, saber dos ciclos dos céus ou sabedoria dos cosmos – aposta nesse formato desde sua criação, em 2008. Mas, foi neste ano que a banda realmente estabilizou-se e, com isso, segue tanto colhendo bons frutos na mídia especializada quanto surpreendendo quem, inicialmente, não acreditava na sua ousada proposta.
Liderado por Zândhio Aquino – responsável pelas composições, guitarras e teclados –, o Arandu Arakuaa possui, por enquanto, apenas uma demo autointitulada cujo lançamento se deu no início desse ano. Em suas quatro composições, o material já apresenta, ainda que em estado bruto, as principais diretrizes da banda – um metal extremo singular, cadenciado e agressivo mas que, em contrapartida, faz um bom uso de melodias e roupagens folclóricas.
"Acredito que a demo cumpre o papel de nos apresentar ao público. Através dela já podemos saber como as músicas soam e que ajustes fazer. Além disso, temos uma diversidade razoável em nossa música e acredito que só no álbum de estreia a banda mostrará a que veio", explica Aquino. Além do músico, completa a formação os membros Nágila Cristina (vocais), Saulo Lucena (baixo) e Adriano Ferreira (bateria).
Sobre o uso do idioma, Aquino justifica: "Musicalmente a língua soa muito bem. Além disso, ter uma banda com temática indígena é um forma de honrar minhas raízes, pois nasci e fui criado nas proximidades da Terra Indígena Xerente, em Tocantins". O uso da língua, certamente, torna a música do Arandu Arakuaa ainda mais distinta, em paralelo com os elementos comuns ao metal."Geralmente as pessoas tem pouca informação sobre es ta língua e ela teve um papel importante no processo de formação do povo brasileiro. Pelo fato do Tupi Antigo ser um língua extinta, estudá-la demanda muito tempo e pesquisa em documentos antigos", explica.
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Mesmo com apenas uma demo e sem uma agenda de shows extensa, o Arandu Arakuaa vem ganhando seu espaço e chamando atenção em alguns veículos internacionais. Recentemente a banda conseguiu, inclusive, emplacar uma de suas composições como trilha sonora de um evento de moda no Paraná. E claro, em meio a tantas polêmicas envolvendo a situação dos índios no Brasil, a música do Arandu Arakuaa não poderia ter mais significância.
Esperemos que sua proposta original evolua e atinja níveis que vão além ao underground. Nas palavras do próprio, com uma pitada de bom humor, Zândhio Aquino: "Esperamos não nos tornarmos uma daquelas bandas cults que, só depois de encerrar as atividades e os músicos estarem mortos ou totalmente ferrados, aparecem fãs curtindo e dizendo coisas do tipo 'estavam à frente do seu tempo', 'foram incompreendidos', 'só os espíritos elevados são capazes de assimilarem sua arte', etc.”. Recado dado.
Informações adicionais em:
aranduarakuaa.tnb.art.br | www.myspace.com/aranduarakuaa
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Liderado por Zândhio Aquino – responsável pelas composições, guitarras e teclados –, o Arandu Arakuaa possui, por enquanto, apenas uma demo autointitulada cujo lançamento se deu no início desse ano. Em suas quatro composições, o material já apresenta, ainda que em estado bruto, as principais diretrizes da banda – um metal extremo singular, cadenciado e agressivo mas que, em contrapartida, faz um bom uso de melodias e roupagens folclóricas.
"Acredito que a demo cumpre o papel de nos apresentar ao público. Através dela já podemos saber como as músicas soam e que ajustes fazer. Além disso, temos uma diversidade razoável em nossa música e acredito que só no álbum de estreia a banda mostrará a que veio", explica Aquino. Além do músico, completa a formação os membros Nágila Cristina (vocais), Saulo Lucena (baixo) e Adriano Ferreira (bateria).
Zândhio Aquino |
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Arandu Arakuaa (2012)
Contando com apenas quatro faixas, a demo tem seu início com a simpática 'Tupinambá'. A música apresenta um refrão grudento e é responsável por introduzir os elementos sonoros do grupo brasiliense onde, na primeira audição, destacam-se as várias mudanças de andamento e variações nos vocais. Aliás, Nágila Cristina já se mostra uma boa vocalista e intérprete – principalmente nas linhas guturais, vocais limpos ficaram por conta da vocalista convidada Isa. Além desses citados, o óbvio flerte com elementos índigenas permeia o trabalho.
Em seguida, 'Auê!' mantém o mesmo clima direto e, apesar de destaques gerais, a 'cozinha' – baixo e bateria – se sobressai. O final mais melódico e cadenciado da canção é bastante interessante, no entanto, a falta de uma 'ponte' faz com que ele soe meio deslocado do resto da música. Neste ponto, o ouvinte já deve ter compreendido como é complicada a tarefa de rotulação da banda; além dos experimentalismos, o Arandu Arakuaa pende para vários subgenêros do metal extremo em uma mesma canção.
Encerrando o trabalho, temos a excelente "Kunhãmuku’~i" – onde o 'índices índigenas' são elevados a níveis experimentais intensos – e a agressiva 'Moxy-Pee-Supe-Anhanga' que é, de longe, a faixa mais extrema dessa demo. Além disso, na minha opinião, a faixa também possui os melhores riffs de guitarra do registro. O quê o Arandu Arakuaa mostra nessa demo? Mostram, principalmente, que possuem potencial para realizar, no futuro, um trabalho sólido, diferenciado e interessante. Especificamente seu líder, Zândhio Aquino, exibe um talento e ousadia raras na hora de compor.
No geral, é surpreendente como a banda consegue desenvolver uma estética musical inacessível e experimental deixando-a, nas devidas proporções, simples e acessível. Todavia, a demo mostra algumas deficiências de arranjos e performance que podem ser, com o passar do tempo, mais trabalhadas, polidas. Exemplos? Timbres de guitarra, especialmente nos momentos solos, e as vocalizações limpas. Detalhes estes que mostram que os elementos citados ainda estão em fase de desenvolvimento e ainda precisam de maiores precisões técnicas. Ou seja, nada que a evolução natural do tempo não possa corrigir. Espero.
Músicas-chave:
"Kunhãmuku’~i" ; "Moxy-Pee-Supe-Anhanga"
Tracklist:
Download (mp3 @ 128kbps)
Contando com apenas quatro faixas, a demo tem seu início com a simpática 'Tupinambá'. A música apresenta um refrão grudento e é responsável por introduzir os elementos sonoros do grupo brasiliense onde, na primeira audição, destacam-se as várias mudanças de andamento e variações nos vocais. Aliás, Nágila Cristina já se mostra uma boa vocalista e intérprete – principalmente nas linhas guturais, vocais limpos ficaram por conta da vocalista convidada Isa. Além desses citados, o óbvio flerte com elementos índigenas permeia o trabalho.
Em seguida, 'Auê!' mantém o mesmo clima direto e, apesar de destaques gerais, a 'cozinha' – baixo e bateria – se sobressai. O final mais melódico e cadenciado da canção é bastante interessante, no entanto, a falta de uma 'ponte' faz com que ele soe meio deslocado do resto da música. Neste ponto, o ouvinte já deve ter compreendido como é complicada a tarefa de rotulação da banda; além dos experimentalismos, o Arandu Arakuaa pende para vários subgenêros do metal extremo em uma mesma canção.
Encerrando o trabalho, temos a excelente "Kunhãmuku’~i" – onde o 'índices índigenas' são elevados a níveis experimentais intensos – e a agressiva 'Moxy-Pee-Supe-Anhanga' que é, de longe, a faixa mais extrema dessa demo. Além disso, na minha opinião, a faixa também possui os melhores riffs de guitarra do registro. O quê o Arandu Arakuaa mostra nessa demo? Mostram, principalmente, que possuem potencial para realizar, no futuro, um trabalho sólido, diferenciado e interessante. Especificamente seu líder, Zândhio Aquino, exibe um talento e ousadia raras na hora de compor.
No geral, é surpreendente como a banda consegue desenvolver uma estética musical inacessível e experimental deixando-a, nas devidas proporções, simples e acessível. Todavia, a demo mostra algumas deficiências de arranjos e performance que podem ser, com o passar do tempo, mais trabalhadas, polidas. Exemplos? Timbres de guitarra, especialmente nos momentos solos, e as vocalizações limpas. Detalhes estes que mostram que os elementos citados ainda estão em fase de desenvolvimento e ainda precisam de maiores precisões técnicas. Ou seja, nada que a evolução natural do tempo não possa corrigir. Espero.
Músicas-chave:
"Kunhãmuku’~i" ; "Moxy-Pee-Supe-Anhanga"
Tracklist:
1. | Kunhãmuku'ĩ | 03:17 | |
2. | Moxy Peẽ Supé Anhangá | 04:51 | |
3. | Auê! | 03:28 | |
4. | Tupinambá | 04:27 |
Download (mp3 @ 128kbps)
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Mesmo com apenas uma demo e sem uma agenda de shows extensa, o Arandu Arakuaa vem ganhando seu espaço e chamando atenção em alguns veículos internacionais. Recentemente a banda conseguiu, inclusive, emplacar uma de suas composições como trilha sonora de um evento de moda no Paraná. E claro, em meio a tantas polêmicas envolvendo a situação dos índios no Brasil, a música do Arandu Arakuaa não poderia ter mais significância.
Esperemos que sua proposta original evolua e atinja níveis que vão além ao underground. Nas palavras do próprio, com uma pitada de bom humor, Zândhio Aquino: "Esperamos não nos tornarmos uma daquelas bandas cults que, só depois de encerrar as atividades e os músicos estarem mortos ou totalmente ferrados, aparecem fãs curtindo e dizendo coisas do tipo 'estavam à frente do seu tempo', 'foram incompreendidos', 'só os espíritos elevados são capazes de assimilarem sua arte', etc.”. Recado dado.
Informações adicionais em:
aranduarakuaa.tnb.art.br | www.myspace.com/aranduarakuaa
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