Com ampla formação musical e experiência na estrada, o paulista Alexandre de Orio é um daqueles poucos guitarristas que já podem se gabar de seu feitos; afinal, não é qualquer um que mantém projetos tão distintos entre si.
Em sua carreira, o músico passa do thrash/death metal do Claustrofobia, ao experimentalismo fusion do Quarteto Kroma, a inserção no mercado acadêmico com o livro 'Metal Brasileiro' e, mais recentemente, o projeto Alexandre de Orio e Bateria S/A. Ou seja, haja assunto para uma, duas ou três entrevistas! Conversei com o músico enfatizando sua carreira como guitarrista do Claustrofobia – que acaba de lançar a primeira edição de seu festival próprio, em São Paulo – e, também, seu livro recém lançado.
Quem sabe, no futuro, não role algo mais focado nos outros projetos? Vamos ver. Enquanto isso, confiram a – longa, eu sei – conversa, praticamente dividida em duas seções, abaixo.
- 1ª Parte -
Hangover-Music: No álbum "Peste", de 2011, o Claustrofobia recebeu – e ainda está recebendo, na verdade – ótimas críticas. Além disso, é a primeira vez que vocês lançam um registro com músicas 100% em português – apesar de sempre investirem em composições do tipo. Que motivos levaram essa decisão? Além disso, como o público reage dentro e fora do palco a essa medida?
Alexandre de Orio: Na verdade, isso foi uma antiga ideia. Acho que depois de muitos acontecimentos, turnês e álbuns, sentimos que chegou a hora certa. É um momento em que as letras, também, estão mais maduras e conscientes – isso é bem importante. Nos shows, as músicas em português sempre foram um ponto alto; o público sempre respondeu muito bem – tanto que cobravam mais músicas do tipo. Na cena, estamos vendo uma volta do metal cantado em português, pois estão surgindo muitas bandas com essa proposta. Por conta disso, acredito que "Peste" foi gravado em um ótimo momento. E, como já falei, ao vivo sempre foi um ponto chave em nossos shows! A galera extravasa cantando a letra junto com a banda por, principalmente, saber o que está sendo dito. Sempre tivemos 100% de apoio quanto a isso.
Fotos do Peste Fest: Pri Secco
HM: Falando em performance ao vivo, vocês realizaram um festival próprio – com o Project 46 e o Oitão – em São Paulo, o Peste Fest. Como foi a reposta do público? Houve algum momento em especial?
AdO: Foi sensacional! O público compareceu em peso e agitou sem parar em todas as músicas. Acho que um ponto alto do show foi quando os 'caras do samba' subiram no palco. Por caras do samba quero dizer O Batuque de Corda – o grupo que gravou a música "Nota 6,66" no disco 'Peste'. Esse momento foi de arrepiar! O público não esperava e, quando viram, deu pra perceber que ficaram em choque. Muitos amigos nos deram força tanto no evento quanto antes dele. Nosso técnico de som, Cristiano Schneider, deu uma baita força, por exemplo, além do som ajudou a coordenar muita coisa. Espero que o DVD fique pronto logo. Na verdade, ainda temos mais coisas para acrescentar no DVD, pois, a princípio, a ideia não é ter apenas esse show. Bem, quem sabe não role outros Peste Fest por aí?! Com certeza foi um dia muito especial!
Claustrofobia e Batuque de Cordas no festival Peste Fest, em São Paulo |
"São quase 20 anos em atividade e, como não realizamos um lançamento oficial para "Peste", achamos que valeria investir algo do tipo. Temos bastante material para um DVD, mas não temos um show específico, com uma produção nossa mesmo. Nada melhor que ter o nosso próprio festival para isso."
HM: Muita gente antes de ouvir "Peste", apenas por meio do teaser do álbum, renegou o disco por conta das inserções de samba nas músicas do trabalho, especialmente na faixa 'Nota 6,66'. O que você pensa a respeito disso?
AdO: Sempre haverá radicais, caras criticando apenas pela necessidade de falar mal. Não há reflexão, apenas xingamentos. Para mim, essas pessoas assinam sua própria ignorância. Isso não acontece somente no metal. Uma coisa é não curtir, outra coisa é desrespeitar. Muitas pessoas confundem gosto pessoal com juízo de valor. Quem nunca ouviu “Não gosto disso, é uma merda”? Não necessariamente aquilo que você não gosta é uma merda. Sempre dou meu exemplo: não curto muito Pink Floyd, porém sei que é um puta som e há muito conteúdo ali. Mas, apesar de reconhecer a importância, não consigo ouvir muito e ponto! De forma geral, o público e os próprios músicos estão mais “abertos”. Vejo isso pelo tanto de mensagens que recebi por causa do livro "Metal Brasileiro" e da própria música "Nota 6,66". A maioria do público gostou e entendeu o diálogo travado entre esses dois gêneros, aparentemente, opostos. O peso estrondoso da percussão com o peso e agressividade dos riffs de guitarra.
HM: Aproveitando, como foi a concepção da faixa "Nota 6,66"?
AdO: A partir de uma gravação que o grupo Batuque de Corda realizou no estúdio do Caio D'Ângelo, ele montou uma porção de breques e chamadas No entanto, quando os caras gravaram de verdade, para o "Peste", saiu outra coisa em relação a essa ideia inicial. Alguns breques e chamadas foram mantidos, mas todo o desenrolar e algumas outras partes foram adicionados, gravadas na hora. Após isso, adicionamos guitarra, baixo em algumas partes, e também colocamos alguns outros instrumentos de percussão como o agogô, por exemplo. No geral, ocorreu de forma bem espontânea e natural. Curtimos pra cacete! Acho que foi perfeito também colocá-la nesse álbum, já que é um disco mais especial para o Brasil, digamos.
"O cara não se contenta em somente ouvir, ele precisa ver! Portanto, é importantíssimo ter esse material nessa 'era Youtube'. (...) temos planos para gravar alguns clipes com faixas do "Peste". Inclusive acredito que o primeira a ser feito será para a música 'Pinu da Granada'. "
HM: Voltando ao Pest Fest... O Claustrofobia está há anos no underground. Após todo esse tempo, o que motivou vocês em realizarem algo dessa magnitude?
AdO: O que motivou foi exatamente isso; são quase 20 anos em atividade e como não realizamos um lançamento oficial para "Peste", achamos que valeria investir algo do tipo. Muita gente cobra um DVD também, então aproveitamos para gravá-lo. Temos bastante material para um DVD, mas não temos um show específico, com uma produção nossa mesmo. Nada melhor que ter o nosso próprio festival para isso.
HM: No geral, como foi a produção e o evento em si?
AdO: O som estava ótimo tanto no nosso show quanto nos das bandas Project 46 e Oitão. Houve sorteio de guitarras e, além da Jackson anunciada desde o começo, duas outras guitarras foram sorteadas no evento. A escola de música EM&T, de São Paulo, doou essas guitarras extras para sorteio. Porém, uma delas, em comum acordo, foi doada para o Tony Iron – presidente do fã-clube da banda Sepultura –, pois ele é um cara que batalha há anos no meio underground e dá força pra muita banda – inclusive deu muita pra gente. Além disso, as marcas que nos patrocinam foram muito importante e deram muita força nesse evento. A Peavey, marca que me patrocina, colocou todos os amplificadores de guitarra e garantiu a qualidade do som. Além dessas, a Giannini, Orion e a Santo Angelo também colaboraram bastante. Toda essa equipe trabalhou bastante para o Fest acontecer e mostrar o quanto se pode ser profissional no underground. Fora esses, ainda teve a Kaiowas (produtora de filmagem) que estavam sempre atentos com as imagens em todo evento. O Ciêro foi quem gravou o áudio. Não preciso nem comentar né?! Ele só gravou três álbuns nosso. Ele e o Henrique Fogaça (do Oitão) fizeram uma participação na música "Bicho Humano".
Em São Paulo, Claustrofobia e convidados durante o Peste Fest |
"Depois de quatro álbuns e muitos anos na ativa, o “simples” é muito mais consciente, maduro, e intencional do que um “simples” no começo de carreira – sem muita experiência, mais ingênuo. "
HM: "Peste", provavelmente, é um dos álbuns mais versáteis do Claustrofobia. Achei interessante como as mais variadas influências da banda aparecem nas faixas do disco e como elas convergem entre si. Como você enxerga o trabalho? Além disso, concorda com as opiniões de que ele é o melhor trabalho do Claustrofobia?
AdO: Você tem razão quando diz que influências variadas aparecem. É um disco mais direto, sem complexidades, excesso de passagens e transições entre os trechos. De forma geral, quando vamos compor em português, nós já vamos meio que com esse “espírito”. A gente resolve impasses por caminhos mais simples. É importante salientar também que depois de quatro álbuns e muitos anos na ativa, o “simples” é muito mais consciente, maduro e intencional do que um “simples” no começo de carreira – sem muita experiência, mais ingênuo. Estamos sempre procurando evoluir tanto individualmente quanto coletivamente e procurando desenvolver ou trabalhar um som da melhor forma possível. Por exemplo, adicionando detalhes marcantes, encontrando novas alternativas, caminhos etc. Enfim, achar pontos fortes, mas sem descaracterizar nosso som. Pessoalmente, ainda tenho um carinho pelo “I See Red”, de 2009. No geral, acho um disco bem equilibrado.
HM: Durante o lançamento do disco "I Seed Red", vocês chegaram, inclusive, a fazer uma turnê européia. Isso contribuiu de alguma maneira para os resultados de "Peste"? Como foi a experiência?
AdO: Essas viagens são sempre um grande aprendizado! Sim, muitas ideias que estão em "Peste" nasceram durante essa segunda turnê européia. No total, foram dois meses; começamos tocando na Alemanha e Holanda, depois fomos para Finlândia e seguimos descendo por toda Europa Oriental – passando por Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Bulgária. Em alguns desses países fizemos shows em mais de uma cidade. Tivemos muitos contratempos também, pois o tour manager na época sumia e ficávamos sem informações certas sobre os shows. A primeira parte da turnê deu tudo certo, fizemos de tour bus com uma banda da Finlândia chamada Re-Armed; na segunda parte da tour, fizemos de van com um grupo da Turquia. A van quebrou várias vezes e, por conta disso, perdemos algumas apresentações. Sabemos que imprevistos acontecem, mas nesse caso o dono da van não estava com o carro em um bom estado e tivemos uns mal-entendidos também. Eu diria que foi uma situação meio crítica. Porém, fazendo um balanço geral, foi muito positivo e, como falei, o aprendizado foi muito grande.
HM: Com a realização de 'Peste', creio que vocês deram um passo importante para a carreira, inclusive, entrando em outros campos musicais. Há algumas outras pretensões, em especial, que vocês anseiem para a música do Claustrofobia?
HM: Durante o lançamento do disco "I Seed Red", vocês chegaram, inclusive, a fazer uma turnê européia. Isso contribuiu de alguma maneira para os resultados de "Peste"? Como foi a experiência?
AdO: Essas viagens são sempre um grande aprendizado! Sim, muitas ideias que estão em "Peste" nasceram durante essa segunda turnê européia. No total, foram dois meses; começamos tocando na Alemanha e Holanda, depois fomos para Finlândia e seguimos descendo por toda Europa Oriental – passando por Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Bulgária. Em alguns desses países fizemos shows em mais de uma cidade. Tivemos muitos contratempos também, pois o tour manager na época sumia e ficávamos sem informações certas sobre os shows. A primeira parte da turnê deu tudo certo, fizemos de tour bus com uma banda da Finlândia chamada Re-Armed; na segunda parte da tour, fizemos de van com um grupo da Turquia. A van quebrou várias vezes e, por conta disso, perdemos algumas apresentações. Sabemos que imprevistos acontecem, mas nesse caso o dono da van não estava com o carro em um bom estado e tivemos uns mal-entendidos também. Eu diria que foi uma situação meio crítica. Porém, fazendo um balanço geral, foi muito positivo e, como falei, o aprendizado foi muito grande.
"Alguns programas que poderiam mostrar novas bandas – ou qualquer outra coisa ligada à arte –, não o fazem. Vemos sempre os mesmos rostos, as mesmas entrevistas e, quando acontecem, sem muito conteúdo – algumas vezes, claro."
HM: Com a realização de 'Peste', creio que vocês deram um passo importante para a carreira, inclusive, entrando em outros campos musicais. Há algumas outras pretensões, em especial, que vocês anseiem para a música do Claustrofobia?
AdO: Legal a pergunta! Bem, sempre procuramos encontrar novos elementos, mas sem descaracterizar o metal e o som do Claustro'. Vou dizer por mim, tenho muitas pretensões e ideias, mas não podemos atropelar as coisas também. Com certeza o Marcus, o Daniel e o Caio também tem. Acho que o que mais buscamos é poder, um dia, viver exclusivamente da banda. Além de poder levarmos nosso som pra todo canto do mundo, claro.
HM: O Claustrofobia lançou poucos vídeos ao longo da carreira – como 'Reality Show' e 'War Stomp' –, de que maneira você acha que esse formato ainda pode contribuir para a banda? Existe algo planejado para alguma canção do "Peste"? Pergunto, pois algumas delas parecem casar de forma perfeita com um projeto audiovisual.
AdO: Com certeza! Acredito que hoje em dia esse formato é fundamental. Antigamente as pessoas ouviam mais, tinha mais percepção auditiva, mas atualmente a função auditiva está muito mais ligada à visão. O cara não se contenta em somente ouvir, ele precisa ver! Portanto, é importantíssimo ter esse material nessa 'era Youtube'. Não temos muitos porque requer tempo e dinheiro – o que é sempre um problema. No entanto, temos planos para gravar alguns clipes com faixas do "Peste". Inclusive acredito que a primeiro a ser feito será para a música “Pinu da Granada”.
"Numa tentativa de me levar para outros lugares e caminhos, há muito tempo crio riffs, no Claustrofobia, utilizando elementos de outros gêneros e estilos. Mas claro, sem descaracterizar o peso e a linguagem do metal!"
- 2ª Parte -
HM: O Claustrofobia sempre mostrou uma grande relação com o cenário brasileiro, digo desde uso de camisetas de bandas, até a criação do próprio festival. De que forma você vê o cenário e a situação das bandas de heavy metal no Brasil?
AdO: Apesar de tudo que acontece no Brasil, nunca esteve tão bem! Hoje há uma porção de mídias para divulgação como blogs, sites, redes de relacionamentos, webrádios, webtvs, etc. O trabalho das assessorias de comunicação, voltada a grupos musicais, também cresceu bastante. Hoje em dia, gravar e lançar um disco é muito mais fácil e mais barato do que quando começamos. Pode-se gravar um álbum de alto nível apenas em casa. Além disso, também vejo muitos shows underground cheios. Outra ponto: também acho que, atualmente, é bem mais fácil conseguir um ótimo instrumento por um preço acessível. Comparada há décadas passadas, são muitos pontos positivos. Obviamente, acho que ainda tem muito que crescer e melhorar – para mim, isso ficou muito claro quando saí em turnê no exterior.
HM: E, especificamente, a posição da mídia?
AdO: Acho que mídias grandes não dão, ainda, o devido espaço pra muita coisa boa que acontece por aí. Alguns programas que poderiam mostrar novas bandas – ou qualquer outra coisa ligada à arte –, não o fazem. Sempre os mesmos rostos, as mesmas entrevistas e essas, quando acontecem, não têm muito conteúdo – algumas vezes, claro. Grandes festivais que poderiam dar uma força, sempre chamam bandas que já tocaram trezentas vezes. Entendo a importância desses grupos, inclusive nós mesmos (de banda) queremos ver nossos ídolos, mas porquê não abre um espaço também para bandas que estão ativas por aí no underground? Por exemplo, o Ratos de Porão, uma das maiores bandas de metal/punk nacional nunca foi capa de uma grande revista especializada. Como?! Entendo que existe o business, mas o 'motor' não pode ser só isso. Por isso, acho muito importante o papel de pequenos zines, blogs, sites etc. Dou um puta valor! E o governo que, por sua vez, deveria contribuir com artistas que realmente precisam de apoio, liberam verba pra um monte de artista que já ganham rios de dinheiro e estão na mídia. Isso realmente é deprimente!
HM: E, especificamente, a posição da mídia?
AdO: Acho que mídias grandes não dão, ainda, o devido espaço pra muita coisa boa que acontece por aí. Alguns programas que poderiam mostrar novas bandas – ou qualquer outra coisa ligada à arte –, não o fazem. Sempre os mesmos rostos, as mesmas entrevistas e essas, quando acontecem, não têm muito conteúdo – algumas vezes, claro. Grandes festivais que poderiam dar uma força, sempre chamam bandas que já tocaram trezentas vezes. Entendo a importância desses grupos, inclusive nós mesmos (de banda) queremos ver nossos ídolos, mas porquê não abre um espaço também para bandas que estão ativas por aí no underground? Por exemplo, o Ratos de Porão, uma das maiores bandas de metal/punk nacional nunca foi capa de uma grande revista especializada. Como?! Entendo que existe o business, mas o 'motor' não pode ser só isso. Por isso, acho muito importante o papel de pequenos zines, blogs, sites etc. Dou um puta valor! E o governo que, por sua vez, deveria contribuir com artistas que realmente precisam de apoio, liberam verba pra um monte de artista que já ganham rios de dinheiro e estão na mídia. Isso realmente é deprimente!
HM: Paralelo ao Claustrofobia, seu trabalho com o grupo instrumental Quarteto Kroma é conhecido. Além disso, recentemente você começou uma série de livros dedicada a conversão de ritmos brasileiros ao metal, o 'Metal Brasileiro'. Como foi a o processo de criação dessa obra?
AdO: Muitos livros são frutos de pesquisas daquilo que a próprio autor está estudando. Esse livro é exatamente isso. Numa tentativa de me levar para outros lugares e caminhos, há muito tempo crio riffs, no Claustrofobia, utilizando elementos de outros gêneros e estilos. Mas claro, sem descaracterizar o peso e a linguagem do metal! Então, utilizava células rítmicas, no caso características de gêneros brasileiros, para desenvolver aqueles tipos de palhetadas muito executadas no metal. Foi uma forma muito boa que encontrei pra fazer esse prática. Além disso, conseguia uns riffs com bastante groove, com um “sotaque” diferente devido a muitos contratempos e síncopas característicos da música brasileira! Fora esse estudo mais técnico, me ajudava a desenvolver idéias para os riffs – pintavam umas coisas diferentes, por exemplo. É quase como um “empurrão na inspiração”, digamos.
Em performance com o Quarteto Kroma |
"Não pensei nele (Andreas Kisser) apenas por ser famoso ou algo do tipo, mas sim porque ele é um músico “aberto” – conhece e toca tanto música brasileira como outros gêneros e, também, tem uma importância muito grande no metal, ou seja, o foco do livro."
HM: Partindo dessa lógica, qual seria o objetivo acadêmico e o que resultaria do estudo do livro? Como surgiu a ideia?
AdO: O objetivo do livro é ajudar tanto na parte técnica – vinculado principalmente à mão direita, relacionado à palhetada – quanto ajudar no processo criativo – para compor riffs, partes de música etc. A ideia de transformar esse material em livro surgiu quando passei a me dedicar intensamente a estudar livros de bateria e transpor as ideias ritímicas para guitarra. Adaptava e encontrava caminhos para transpor algumas sutilezas das levadas aos riffs de guitarra, por exemplo. Aos poucos fui dividindo, as partes de todo material e escrevendo detalhes dos riffs, propostas de estudo, etc. Depois escrevi sobre a ideia do projeto e por fim um histórico de cada subgênero apresentado. Nesse primeiro volume, trabalho apenas com o ritmo do samba. O livro contém 76 páginas no total e vem com um CD com 64 faixas.
HM: No Claustrofobia, vocês já contaram com a participação de Andreas Kisser (Sepultura) algumas vezes e, recentemente, ele até assinou o prefácio do teu livro. Como foi o contato com ele?
AdO: Conhecemos o Andreas há um bom tempo. Ele participou numa faixa do “Fulminant”, de 2007 – na música “Eu quero é que se Foda”. Já tocamos com o Sepultura algumas vezes, inclusive uma vez o Andreas fez uma jam com a gente em um show no interior de SP! Ele curte pra caramba o som do Claustro' e sempre deu uma força pra gente. Em relação ao livro , aconteceu até uma coisa muito louca porque na semana que fiquei de ligar pra ele – e pretendia falar do projeto e etc. –, nos encontramos no aeroporto de Salvador. Nem acreditei, então já expliquei meio por cima do que se tratava. Depois disso, nos encontramos em SP pra eu levar uma cópia do livro e explicar toda ideia e tal. É claro que ele entendeu na hora, ouviu umas faixas da pré que tinha gravado e ele curtiu pra cacete! Fiquei feliz pra caralho porque é uma grande honra. Desde quando tive o insight do livro, pensei nele pra escrever o prefácio. Saliento que não pensei nele apenas por ser famoso ou algo do tipo, mas sim porque ele é um músico “aberto” – conhece e toca tanto música brasileira como outros gêneros e, também, tem uma importância muito grande no metal, ou seja, o foco do livro.
AdO: Eu tinha um material interessante nas mãos e nunca vi nenhum material com essa abordagem. Queria repartir essas ideias, pois pode ajudar muito a molecada ou mesmo músicos já experientes a sanar algumas dificuldades do gênero – como, palhetadas, execução de riffs como também ajudar no processo criativo. Outra coisa que me motivou muito é levar o conhecimento da nossa própria cultura, que é muito rica, dentro de um outro universo, que é o metal, e mostrar o quanto isso é realmente possível sem soar falso ou caricato. Muitos estudantes poderão crescer e incorporar esses elementos também. É uma contribuição bibliográfica também. Ao menos no ramo da música, o Brasil ainda é carente nesse sentido. Cresceu bastante, mas ainda não chega nem aos pés dos Estados Unidos, por exemplo. Além de ser fonte de estudo para os guitarristas, pode ajudar nas pesquisas de bateristas, pois fora a tablatura e partitura de guitarra, há, também a transcrição das levadas de bateria. Na verdade até pode ser fonte de pesquisa para outros instrumentos, pois é só entender a ideia e aplicar! Falo isso porque já recebi emails de baixista que compraram, por exemplo. Já até soube de um DJ que estava utilizando as ideias para compor suas músicas! É legal você ver a coisa se espalhando.
AdO: Muito obrigado pela entrevista! Aproveito para parabenizar seu trabalho, pois há pouco tempo li a entrevista que fez com um dos grandes mestres da guitarra, o Heraldo do Monte. Boa sorte na sua caminhada. Também queria agradecer a toda galera que sempre acompanha e dá uma grande força para os meus trabalhos seja no Claustrofobia, com o Quarteto Kroma, no livro e, agora, com meu novo projeto: Alexandre de Orio e Bateria S/A. Obrigado a todos!
Sites:
Claustrofobia | Quarteto Kroma | Metal Brasileiro
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Boa entrevista. Gostei, e ate mesmo pensei em fazer um blog falando do metal brasileiro ou apenas do Claustro.
ResponderExcluirFlw, abraço!