Ano de Lançamento: 2012
No cenário da música pesada atual, há pouquíssimas bandas em ascensão que praticam um som tão singular e, em certos pontos, único como os franceses do Gojira.
A envolvente mistura dos atributos viscerais do death metal com doses de groove e experimentalismo, por fim, sobrepostos a letras ecológicas e espirituais; conferiu ao grupo uma base de fãs variada que aumenta gradativamente. Apesar das composições da banda serem bastante técnicas, os músicos nunca investiram claramente em virtuosismo - não há solos, por exemplo - e desde o primeiro registro ("Terra Incognita", de 2000), aparentam fugir dos clichês comuns a música pesada.
Atualmente, passando por uma ótima fase - que também inclui o lançamento, quase paralelo a este, do box "The Flesh Alive" -, o Gojira apresenta o seu quinto álbum intitulado "L'Enfant Sauvage" (em português, 'A Criança Selvagem'). Título este que remete a clássica obra cinematográfica francesa de mesmo nome, a propósito. Segundo Joe Duplantier (vocais e guitarra), o disco não fora nomeado em inglês ('The Wild Child') porque, em sua opinião, a expressão original é tão particular que não pode ser bem traduzido para a língua inglesa.
O álbum tem sua introdução com a agressiva "Explosia". Uma abertura digna com riffs bem ao 'estilo Gojira', ou seja, dissonantes e repletos de groove, pick scrape - recursos que envolvem palhetas raspando as cordas e, em algumas outras ocasiões, até a troca de seletores/captadores etc. -, assim, possibilitando uma sonoridade moderna e distinta. Aliás, isso já é quase uma marca registrada dos riffs desenvolvidos pelos guitarristas Joe Duplantier e Christian Andreu.
Principalmente na segunda parte de "Explosia", o incrível trabalho de bateria feito por Mario Duplantier - sim, ele é irmão de Joe - também se destaca. Entretanto, é a finalização cadenciada com melodias pouco usuais, em um clima quase western, que rouba a cena.
A audição de "L'Enfant Sauvage" tem prosseguimento com a incrível faixa-título - primeiro single do álbum que, consequentemente, fora divulgada antes das demais - e "The Axe". Com boas variações, a primeira destaca-se pelo incrível trabalho de Joe Duplantier nos vocais - sua interpretação, nos guturais, é incrível - e linhas de guitarras 'soladas' atípicas ao Gojira. Já a segunda, eleva o peso - remetendo bastante os americanos do Morbid Angel na fase 'Domination' (1994), por exemplo - e na metade final, apresenta um dos riffs mais grudentos criados pela banda. Excelente!
A quarta faixa ("Liquid Fire") também fora disponibilizada previamente. Aqui roubam atenção as linhas de bateria e, como sempre, a afiada dupla de guitarras. Saliento que esta é uma das composições com um apelo mais moderno do álbum que e que utiliza, inclusive, o efeito vocoder nos vocais de Joe em certos momentos. Esse efeito causa uma impressão robótica na voz o que, em minha opinião, cai como uma luva na sonoridade do Gojira - ele já foi utilizado em 'A Sight to Behold', do álbum anterior, na realidade. Aos saudosos, lembrará o trabalho de Paul Masvidal, do Cynic.
O disco segue com a pequena instrumental "The Wild Healer" - instrumentais com 'climas de jam' são quase uma obrigatoriedade nos álbuns da banda, vale lembrar - e "Planned Obsolescence". Esta última é uma das melhores e mais brutais do disco - aqui a influência de death metal é latente. Além disso, sua conclusão limpa introduz a também violenta, "Mouth of Kala". Nesta sétima faixa, os vocais limpos reaparecem e o groove criado pela bateria / baixo soa ainda mais cativante que nas músicas anteriores. Não há muito o que comentar: apenas ouça o encerramento da composição e ateste a criatividade dos músicos em elaborar riffs realmente pesados, mas que ainda assim soam marcantes.
Da esquerda para a direita: Mario e Joe Duplantier, Christian Andreau e Jean-Michel Labadie |
Conclusão do disco
A metade final do álbum é marcada por músicas mais cadenciadas e experimentais. A primeira delas ("The Gift of Guilt") destaca-se pelos belos temas de tapping - creio que seja uma herança do Death, pois a banda sempre investe nesse tipo de tema - e pelo refrão absurdamente grudento. Com certeza uma das músicas mais radiofônicas que a banda já produzira! Por fim, encerram o disco "Pain Is A Master" - cheia de variações, mas que parece um pouco 'mal costurada' -, 'Born In Winter' - bem limpa e experimental, com 'ecos' de "From Mars", do álbum de 2006 - e, com o baixo bem 'na cara', a boa 'The Fall'.
No geral, "L'Enfant Sauvage" é uma grande obra e um dos trabalhos mais melódicos do Gojira, senão o mais. Apesar das últimas composições não soarem tão consistentes, se comparadas as presentes no início do disco, elas estão longe de comprometer o álbum que, no geral, se mantém coeso. Liricamente, o disco aponta para questões mais sociais - a faixa título deixa isso claro - e conflitos internos ao ser humano. Consequentemente, há uma redução no direcionamento ecológico tão comuns as letras da banda. Também vale ressaltar que a ótima produção contribuiu, em muito, para que o som - pesado e dissonante, lembrando - soe bem.
É ótimo ver que a banda se consolida cada vez mais e que, mesmo assim, adiciona novos elementos a sua arte o que, em minha opinião, tem um efeito positivo. Por exemplo, apesar de ser um álbum predominante focado na música extrema, ainda assim "L'Enfant Sauvage" pode atingir um público diferente com, inclusive, mais facilidade que os registros anteriores. Para quem gosta de som pesado - realmente bem pesado - e está saturado da obviedade em que a maioria das bandas de metal insistem, Gojira sempre é - e sempre será, espero - uma ótima recomendação. Com certeza um dos candidatos a melhor álbum do ano de 2012.
Faixas bonus
Quem conferir a versão especial do disco irá se deparar com duas músicas extras, são elas: "This Emptiness" e "My Last Creation". A primeira, apesar de possuir ótimos riffs - , não soa tão marcante por conta das linhas vocais; já a segunda vai pra um caminho mais "Panteresco", ou seja, bem cheio de groove e, assim como a anterior, apesar de contar com boas linhas de guitarra falta 'algo'. Mas, no geral, ambas são boas bonus.
Faixa-a-faixa do disco realizado por Joe Duplantier:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=RNhGKtah4OU
Músicas-chave:
Formação:
Joe
Duplantier - vocal, guitarra
Christian
Andreu - guitarra
Jean-Michel
Labadie - baixo
Mario
Duplantier - bateria
Tracklist:
1.
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Explosia
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06:39
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L'enfant
Sauvage
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04:18
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The
Axe
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04:34
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Liquid
Fire
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04:17
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The
Wild Healer
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01:48
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Planned
Obsolescence
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04:39
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Mouth
of Kala
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05:51
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The
Gift of Guilt
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05:56
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Pain
Is a Master
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05:07
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Born
in Winter
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03:51
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The
Fall
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05:25
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Também pode ser acessada em:
http://whiplash.net/materias/cds/158898-gojira.html
http://whiplash.net/materias/cds/158898-gojira.html
Pelo menos a música do clipe me remeteu muito mais ao In Flames recente e mesmo ao Hypocrisy do que ao Death ou ao Morbid Angel. Achei bastante comum, mas por vezes as músicas de trabalho não estão entre as melhores do disco no qual se inserem, então não posso opinar antes de ouvir o album na íntegra. De qualquer forma, nunca ouvira falar da banda, o que torna a resenha mais significativa.
ResponderExcluirComo falei na resenha, o riff principal dessa música é atípico a banda. É uma boa música, mas está longe de representar o disco. Longe de representar o Gojira.
ResponderExcluirProcure ouvir o disco From Mars... To Sirius quando estiver com vontade de escutar algo pesado. As possibilidades de você gostar são altas, pois a sonoridade da banda é muito própria.