domingo, 12 de dezembro de 2010

Resenha: Pink Floyd - Animals



Ano de lançamento: 1977

Em um período não muito favorável para o rock progressivo – no final da década de 70, especificamente – , o grupo britânico Pink Floyd lança aquele que, possivelmente, seja o registro mais injustiçado (nas devidas proporções), difícil e genial de suas carreiras: "Animals". Apesar da dificuldade do gênero na época – que perdia espaço para o punk, por exemplo –,  o Pink Floyd não abriu mão de sua criatividade artística a favor da "máquina"; "Animals" é um álbum conceitual cujas músicas são enormes em tempo e variação. Ou seja, honra mais do que nunca a vertente musical da banda – o rock progressivo.


Para entender esta obra musical se faz necessário, inicialmente, compreender o conceito por trás de "Animals". Por conta da natureza conceitual, todas as canções são conectadas entre si, como uma grande história (eis uma da característica do gênero progressivo). O conceito, aqui, tem por base a obra literária "A Revolução dos Bichos", de George Orwell.

Roger Waters (baixista e vocalista) adotou a ideia principal do livro – que consiste em uma analogia entre o homem e espécies de animais como porcos, cachorros e ovelhas – e introduziu em toda a parte lírica do álbum. Coube, principalmente, a David Gilmour (guitarra e vocal), Richard Wright (teclado) e Nick Mason (bateria) criar as camadas sonoras que, desde o início, transportam o ouvinte do início ao fim em uma das maiores críticas ao mundo capitalista realizadas através da música.

A abertura do álbum é feita com "Pigs On The Wing (Part 1)", uma espécie de epílogo   base de voz e violão  que, na verdade, foge da temática principal do álbum; na verdade, trata-se de uma curta canção de amor. Curiosamente o disco se encerra com a segunda parte de "Pigs On The Wing"– a propósito, bastante similar a primeira. Ambas as canções diferem do restante do álbum funcionando, assim, como uma forma de esperança  baseada no amor –  envolvendo" as outras faixas do ábum: "Dogs", "Pigs (Three Different Ones)" e "Sheep". Todas essas músicas baseando-se, liricamente, no conceito do livro de Orwell.




Sim, a capa do disco é uma imagem real. Trata-se de uma fotografia tirada na lendária central elétrica de Balttersea,  no ano de 1976, em Londres. A capa tem a finalidade de resumir o conceito do álbum: o porco que sobrevoa a imagem demonstra ganância e a imagem da fábrica passa toda a ideia de poder emanada pelos "porcos".



Com a macabra introdução de teclado de Wright, "Pigs (Three Different Ones)" trata dos políticos corruptos, cujas carreiras são realizadas com base na exploração das pessoas; moralistas e classes opressoras em sua totalidade. Os "porcos" controlam os "cães" e as "ovelhas" representando a classe "dominante". Isso talvez explica porque tal faixa seja uma das mais roqueiras do disco. 

As linhas de baixo são interessantes e chamam atenção ao longo da música, mas engana-se quem crê que Waters gravou esta faixa. Anos mais tarde, David Gilmour confessou que o baixo fora gravado por ele. A única queixa (!) seria a sensação que essa música poderia durar mais: o solo Gilmour no fim poderia ser infinito, na verdade.  Destaque também para o uso da talk box na guitarra de David Gilmour a metade da canção, criando um excelente efeito atmosférico - o que é quase uma redundância quando falamos de Pink Floyd e Gilmour, certo?

Já "Sheep" faz referência direta as pessoas que nada fazem para mudar o mundo. Resumindo: quem apenas seguem o 'rebanho de ovelhas'. Seguindo a lógica anterior, as "ovelhas" seriam os "dominados".  Durante a música ainda há a citação do Salmo 23 – o que mostra claramente a vontade, de Waters, em criticar as instituições religiosas que alienam as pessoas e as transformam, gradativamente, em "ovelhas". Musicalmente, "Sheep" é uma canção bem interessante, com ótimas linhas vocais - que apenas pecam por sua repetição – e ótimas camadas sonoras durante toda a música. A levada funk de Gilmour no final encerra a música com maestria.

Completa o álbum a mais emblemática das músicas do "Animals", e com certeza uma das melhores do Pink Floyd: "Dogs". A faixa possui longos 17 minutos que, de fato, assustam. Mas ao ouvir a canção, acredite, nem apenas um segundo parece ser desnecessário. Em suma, os "cachorros" seriam uma espécie de meio termo entre os "porcos" – para quem serviriam – e as "– a quem aplicariam as ordens, cuja vontade máxima seria um dia virem a ser "porcos".  No geral, dá a entender que os "cães" seriam espécies de burgueses buscando a ascensão. Curiosamente a morte dos "cães" é anunciada no fim de "Sheep" e em "Pigs on the Wing (Part 2)" Roger Waters revela-se um "cão". Contudo, o que destaca-se em "Dogs" é a música por si só. Totalmente envolvente, hipnótica e psicodélica... completamente Pink Floyd.

A guitarra de David Gilmour é mágica e, ao mesmo tempo simples. O resultado é uma grande distinção de outros virtuosos do gênero – como Steve Howe (Yes), por exemplo . Gilmour não possui uma técnica exagerada e economizava nas suas notas.  O que nos faz pensar: o que seria um guitarrista virtuoso, afinal?

Em "Dogs", seu estilo envolvente e  econômico fala mais alto em melodias assobiáveis. Isso sem comentar seus excelentes vocais nessa canção, cuja autoria é divida por Waters - que, aliás, possui  todos os créditos das outras músicas. 


No geral, "Animals" é um álbum completamente anti-comercial, que curiosamente foi um disco bastante premiado, e de difícil digestão. Todavia, quanto mais assimilado, mais cativa o ouvinte. Sim, " Animals" merece (e deve) ser ouvido, apreciado aos poucos, e dissecado nos mínimos detalhes.

Trata-se de um álbum atemporal, cujas letras ainda são relevantes. Infelizmente, marcou o início da 'época ditatorial' de Roger Waters  - que culminaria, anos depois, na separação do "Pink Floyd".  Alheio aos problemas pessoais da banda, "Animals" é uma das maiores obras da banda. Em meio a uma discografia imensa, alguns álbuns pagaram o 'pato'... Infelizmente, "Animals" não possui suas faixas tão lembradas e marcadas em palco, mas ainda assim é um dos discos mais importantes (e essenciais) na longa discografia dos ingleses.


Músicas-chave:
Dogs ; Pigs (Three Different Ones) ; Sheep



Formação:
Roger Waters - baixo e voz
David Gilmour - guitarra e voz
Richard Wright - teclados
Nick Mason - bateria

Tracklist:
   1. "Pigs On The Wing (Part 1)" – 1:25
   2. "Dogs" – 17:08
   3. "Pigs (Three Different Ones)"  – 11:28
   4. "Sheep" – 10:20
   5. "Pigs on the Wing (Part 2)" – 1:25




3 comentários:

  1. Excelente.

    Não faltou com a verdade. O disco está entre os mais geniais já compostos, tanto em termos musicais quanto em crítica, e mesmo com uma carreira tão repleta de obras primas como a do Pink Floyd, esse disco consegue se destacar.

    Abraço,
    Maragato

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  2. Simplesmente perfeito! Dogs é genial. O fim é grudento... O solo de baixo na intro de pigs é cativante e cativa ainda mais por ter sido gravado por David Gilmour. Album excelente!

    Lucas F

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  3. Um disco nada menos que INDISPENSÁVEL.

    Contudo, algo que sempre me deixou com a pulga atrás da orelha foi esta suposta centralidade de Waters no disco. O conceito é todo dele, mas as contribuições de Gilmour (sobretudo e Dogs) é fundamental.

    Em termos subjetivos, não considero "Animals" um album de dificil assimilação de modo algum. Tbm não acho que se trate dum album injustiçado, pelo menos p/ quem realmente conhece a banda.

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