segunda-feira, 25 de junho de 2012

Resenha: Viper - Theatre Of Fate

Ano de lançamento: 1989

Em uma época que o heavy metal brasileiro realizava seus primeiros passos significativos, o grupo paulistano Viper fez uma de suas maiores contribuições quando lançara seu segundo registro, o clássico "Theatre of Fate". 

Abandonando a sonoridade mais ríspida e agressiva do disco  anterior ("Soldiers of Sunrise", de 1987), "Theatre of Fate" marca uma notável evolução dos seus então jovens integrantes, sobretudo dos principais compositores/ arranjadores - Pit Passarell (baixo) e, a um ano da maioridade, Andre Matos (vocal) -, que, investindo em uma boa produção, novas sonoridades e estruturas, consolidaram este trabalho como um dos alicerces da música pesada nacional, quiçá mundial.

Na forma de uma peça instrumental, "Illusions" abre o disco de maneira épica destacando tanto as melodias de violão e guitarras - realizadas pelos  músicos Yves Passarel e Felipe Machado - quanto os arranjos de Andre Matos - responsável por todos os teclados do álbum, aliás. Curiosamente, essa forma de introdução seria usada por Matos em discos clássicos do Angra e Shaman, mas isso é outra história...

Contracapa do álbum 'Theatre of Fate'

Após a climática introdução, surgem os primeiros riffs de "At Least A Chance" que, em conjunto com a bateria de Sérgio Facci, já denunciam a velocidade que ditará a maioria das faixas de 'Theatre of Fate'. De cara, já nota-se a grande influência do metal europeu - me refiro a influências além ao Iron Maiden - moldando o som do Viper em passagens de guitarra claramente neoclássicas. Fora isso, os peculiares vocais agudos de Matos roubam atenção; entretanto, performances ainda melhores surgirão. Vale salientar que Sérgio Facci substituiu Cassio Audi - responsável pelas baquetas no primeiro disco - e que embora o encarte do álbum credite Guilherme Martin, Facci  foi quem gravou, de fato, as partes de bateria do disco.  Sim, no fim das contas, Facci foi um músico de estúdio; porém, Guilherme Martin realizou a turnê de divulgação de 'Theatre of Fate'.

O ritmo do álbum segue frenético com a rápida 'To Live Again' - a que mais remete ao primeiro registro do grupo, aliás - e a segunda canção mais clássica do disco, "A Cry from the Edge". Pelo seu início lento e cadenciado - seguindo os moldes das baladas tradicionais ao heavy metal -, talvez ela engane o ouvinte, mas é apenas isto: logo após a faixa desanda para o tradicional ritmo acelerado da banda e, embora apresente muitas melodias, ainda contém riffs pesados e momentos agressivos no vocal de Matos que, no decorrer da obra, é predominante limpo e agudo... bem agudo. A composição foi a "música de trabalho" da banda e rendeu um vídeoclipe.

Me referi a "A Cry from the Edge" como a segunda mais clássica, certo? O motivo é simples e  chama-se "Living for the Night". Emendando partes limpas com momentos de puro heavy metal tradicional e um refrão pegajoso - na verdade, todas as linhas vocais o são -, a quinta música desse disco tornou-se o maior clássico do Viper sendo, inclusive, tocada até hoje por Andre Matos em shows de sua carreira solo. Aqui todos da banda tem um bom espaço, principalmente Pit, e destacam-se bem.

Andre Matos
A sexta canção ("Prelude to Oblivion") traz uma certa teatralidade - remetendo uma das bandas favoritas de Matos, o Queen -, por parte das harmonias vocais, e talvez seja a que mais lembra o que Andre Matos fez no primeiro trabalho com o Angra ("Angels Cry", de 1992). Apesar dos vocais se sobressaírem, as guitarras também conseguem um ótimo destaque soando ainda mais neoclássicas que nas primeiras faixas. Também devo mencionar a inclusão do quarteto de cordas nela que, assim como em 'At Least a Chance', enriqueceram os arranjos da composição.

O álbum chega a sua conclusão com a trabalhada faixa-título - retomando certas doses de peso - e a releitura de 'Moonlight Sonata', do compositor alemão Beethoven - aqui simplesmente intitulada 'Moonlight'. Nesta última, destaca-se a grande performance de Andre Matos tanto cantando como executando os teclados. Chega a ser impressionante saber que o cantor registrou isso aos 17 anos de idade! A título de curiosidade, vale mencionar que Matos gravaria, anos depois, uma nova versão batizada de 'A New Moonlight' no seu primeiro álbum solo ("Time to Be Free", de 2007) .

Primórdios do Viper: época do álbum "Soldiers of Sunrise"

Em suma, um disco conciso que aliado a uma boa produção - realizada por Roy M. Rowland (Kreator, Testament, Sabat etc.) - e composições cativantes, projetou o Viper, inclusive, internacionalmente; a banda  foi uma das primeiras, do Brasil, a atingir o mercado japonês, por exemplo. Também é interessante comparar, conhecendo seus trabalhos posteriores, a evolução de Andre Matos como cantor que, com o tempo, aprimorou sua forma de interpretação. Claro, nessa época seu alcance era imenso, mas a experiência proporcionaria performances mais diversificadas.

Os outros músicos, embora não sejam virtuosos, realizam um trabalho de bom gosto, ou seja, sem passagens desnecessárias e exageradas. Como Andre Matos bem pontuou em entrevista recente: o Viper fora marcado pela raça. Outro detalhe que merece ser mencionado, é que este foi o último disco com Matos nos vocais. 

Atualmente, boa parte da banda reuniu-se, inclusive Andre Matos, para tocar 'Theatre of Fate' e 'Soldiers of Sunrise' - que celebra 25 anos desde seu lançamento - na íntegra em diversas apresentações especiais pelo Brasil. Especula-se que serão dois meses de reunião, porém esperemos que a turnê se amplie e, quem sabe, renda novos frutos que honrem o legado de discos como "Theatre of Fate".




Músicas-chave:
"Living for the Night" ; "Prelude to Oblivion";"Moonlight"

Formação:
André Matos - vocal, teclado
Felipe Machado - guitarra
Yves Passarell - guitarra
Pit Passarell - baixo
Sérgio Facci - bateria

Tracklist:
1. Illusions 01:51  
2. At Least a Chance 03:59   
3. To Live Again 03:29   
4. A Cry from the Edge 05:11   
5. Living for the Night 05:26   
6. Prelude to Oblivion 03:45
7. Theatre of Fate 06:18
8. Moonlight 04:40


Esta matéria também pode ser encontrada em:
http://whiplash.net/materias/cds/157595-viper.html

6 comentários:

  1. Massa a resenha, e pra um álbum e banda que merecem.

    Nao sabia essa do baterista, achei que o Guilherme que tinha gravado as musicas, legal destacar essa parte.

    Ate hoje ouço esse álbum e nao me conformo com a qualidade das musicas, nem de longe parecia uma banda "começando" a carreira, ainda mais se parar pra pensar que eram apenas "moleques". O que se vê ali (ou melhor, ouve), são musicas muito bem construídas, melodias que ficam na cabeça, solos (nada exagerados, o que nao significa de forma alguma ruim) simples (tecnicamente) e marcantes, musicas com passagens épicas, como a própria Prelude e a faixa titulo, e um destaque pro André, que tinha mesmo um alcance absurdo, coisa que muitos cantores estudando por anos nao conseguem.

    Clássicos como Cry e Living nem precisam ser comentadas, são outros destaques a parte.

    Uma pena (ou não) que depois deste album a historia da banda mudou tanto, com a saída do Andre, a mudança no direcionamento das musicas, ate chegar ao fim da banda. Mas com isso temos hoje a oportunidade de poder ver essa reunião com a formação classica, tocando os 2 albuns na íntegra.

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  2. Pois é, Fernando. Espero que a reunião vingue e a banda lance algum material. Na verdade, desde 2010 eles já planejavam se reunir - vi isso em uma entrevista com o Felipe Machado. Até uma regravação, embora muitos puristas possam criticar, eu acharia bacana.

    Vamos ver como vai ficar o DVD que gravarão em breve.

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  3. Respostas
    1. Vindo do Semente, fico tranquilo quanto a qualidade do álbum.

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    2. Muito bom álbum, to ouvindo agora haha... provavelmente você não sabe nada de música e quer bancar o entendedor, fracassado!

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