Com mais de uma década de história e contrariando os padrões musicais de sua época, o Raimundos firmou-se como uma das principais bandas do rock nacional.
A inusitada mistura de hardcore com elementos da música nordestina - o dito forrócore -, sobrepostos a letras escrachadas e guitarras pesadas, renderam ao grupo de Brasília, pouco a pouco, um status privilegiado no cenário nacional - inclusive com alguns hits emplacando nas rádios populares.
Contudo, após a problemática e repentina saída do vocalista Rodolfo Abrantes, o Raimundos perdeu parte desse prestígio e visibilidade na mídia. Além de todos os problemas resultantes da saída do vocalista, a banda passou por algumas reformulações em sua formação - Digão, um dos fundadores da grupo, além de tocar guitarra passaria, também, a cantar - e sofreu com uma certa descrença por parte do público que outrora os veneravam.
Atualmente, o Raimundos atravessa uma ótima fase tanto pelo retorno de Canisso (baixo) quanto pela adição dos músicos Marquim (guitarra) e, ainda mais recentemente, Caio (bateria). Com essa formação, o grupo lançou o CD/DVD ao vivo - ou, como dissera Digão, o "tiro certeiro" - intitulado "Roda Viva" (2011). Ainda mais recentemente, a banda realizou uma parceria com os paulistanos do Ultraje A Rigor e, aproveitando a boa fase, promete lançar um vindouro álbum de inéditas.
Sem mais delongas, segue a conversa que tive com o principal responsável pela existência do Raimundos, Digão.
Hangover-Music: Olá, Digão! Além de você, a banda conta há alguns anos com um guitarrista fixo (Marquim). Lembro que, nos primórdios, vez ou outra Rodolfo (ex-vocalista) assumia a guitarra base. Como instrumentista, o que um parceiro nas seis cordas tem contribuído na sua performance?
Digão: Na verdade, acabaram por haver duas grandes mudanças no Raimundos: Marquim como o guitarrista principal e eu como vocalista. A banda nunca esteve com a sonoridade tão boa como agora; soamos mais pesados e definidos! O Marquim é muito melhor instrumentista que eu e acabou trazendo uma bagagem nova muito interessante! Se o Wes Borland (guitarrista do Limp Bizkit) escutasse o som que fazemos agora, não ia chamar o Raimundos de "banda de iniciantes" como ele disse quando ouviu "Tora Tora" - do álbum "Lavo tá novo", de 1995 - (risos).
Nota: Em 2011, no show do Limp Bizkit em São Paulo, mostraram algumas músicas para Wes Borland que descreveu o som da banda como Digão mencionou.
Da esquerda para direita: Canisso, Digão, Caio e Marquim |
"O Canisso é a cara da banda e com ele voltou o que faltava pra continuarmos de verdade,
voltou parte da legitimidade do Raimundos . E tudo isso aliado ao som
singular do seu baixo - não tem pra ninguém com o Mestre Canisso!"
HM: Aproveitando, desde que você se tornou frontman, como tem sido sua adaptação?
Digão: No começo foi muito difícil, pois é uma grande responsabilidade seguir com uma banda que tinha uma formação tão emblemática como o Raimundos. Mas, com o passar do tempo, tenho me sentido bem a vontade; gosto muito de fazer shows e dou sempre o melhor de mim junto com meus companheiros em nome do rock.
Digão: No começo foi muito difícil, pois é uma grande responsabilidade seguir com uma banda que tinha uma formação tão emblemática como o Raimundos. Mas, com o passar do tempo, tenho me sentido bem a vontade; gosto muito de fazer shows e dou sempre o melhor de mim junto com meus companheiros em nome do rock.
HM: Em meados de 2010, Tico Santa Cruz (Detonautas) assumiu o posto de vocalista da banda por um período. Como foi a experiência?
Digão: Foi uma ótima experiência, pois o Tico é um vocalista super carismático. Fizemos ótimos shows e inclusive juntamos as duas bandas (Raimundos e Detonautas) em algumas dessas apresentações! Essa ideia partiu do Tico e achei oportuno experimentar um outro vocalista. Apesar dessa experiência, o público gosta muito da formação atual. Enfim, só tenho a agradecê-lo pelo fortalecimento.
"Somos
movidos a desafios, quando subestimam a gente, nós subimos ao palco e
mostramos que a história é outra, assim o gostinho do nosso trabalho é
muito
melhor..."
"O Ultraje é meio que pai da criança (...) Imagina a felicidade de ouvir as nossas músicas na voz do Roger!? É muita honra!"
HM: Ultimamente, o Raimundos conta com uma agenda cheia tocando em
diversas cidades do Brasil. Além disso, Canisso (baixista) voltou a banda. O que a volta do músico causou nessas apresentações do Raimundos? No geral, como vem sendo a resposta do público aos
shows?
Digão: Só casa cheia com o público cantando a plenos pulmões, inclusive as músicas da minha fase como vocalista! Só tenho a agradecer a todos que estão com a gente nessa caminhada. O Canisso é a cara da banda; com ele voltou o que faltava pra continuarmos de verdade, além de parte da legitimidade do Raimundos. Tudo isso aliado ao som singular do seu baixo - não tem pra ninguém com o Mestre Canisso!
HM: Diante dessa resposta positiva do público, vocês planejam lançar um disco de inéditas? Em caso afirmativo, o que os fãs podem esperar?
Digão: O DVD "Roda Viva" foi um tiro certeiro, recolocando o Raimundos na mídia e dando o 'chão' pra fazer um novo trabalho de inéditas. Já estávamos focados quando pintou o "Ultraje X Raimundos", assim demos uma adiada pra trabalhar um tempo nesse projeto para depois vir com tudo no próximo disco! Podem esperar ROCK bem RAIMUNDOS na veia!
"Os
festivais atuais andam meio medrosos, com medo de apostar. (...) Antes os festivais eram mais comuns e
divertidos..."
HM: Já que você tocou no assunto, recentemente vocês realizaram esse projeto interessantíssimo com o Ultraje A Rigor! Como foi realizar essa parceria e qual a relação do Raimundos com o Ultraje?
Digão: Foi demais! Amei poder mexer num dos discos que mais ouvi na vida! Pôr a nossa cara lá foi muito divertido e fácil! O Ultraje é meio que pai da criança (Raimundos), sempre toquei as músicas do álbum "Nós Vamos Invadir a Sua Praia" (1985) na bateria quando moleque. Imagina a felicidade de ouvir as nossas músicas na voz do Roger!? É muita honra!
HM: Certos
críticos consideraram, nos anos 90, a música do Raimundos como boba,
infantil. Bandas como o Mamonas Assassinas e Ultraje A Rigor também foram alvos
desse tipo de crítica. O que você pensa a respeito dessas opiniões que,
geralmente, são focadas apenas pela temática lírica do grupo?
Digão: Alguns críticos tendem a levar pro lado pessoal e não analisam como um todo. Tanto as sacanagens quanto as brincadeiras fazem parte de um contexto que funciona muito bem no Raimundos! Quando leio resenhas das bandas que eles gostam e depois vou vê-las em ação, só tenho uma convicção: conceitual demais é o mesmo que ser chato demais...
"Daqui do nosso lado nunca partiu um convite pra que ele (Rodolfo) voltasse, mas sempre
deixamos isso a vontade dele. Acho que o público perde tempo fazendo
essa pressão: é como um cachorro fujão, quanto mais você chama, mais ele
quer ir pra longe..."
HM: Antes
de tudo, o Raimundos é conhecido pelo peso. Sons antigos como ‘Baile
Funky’, ‘Rapante’ e a própria ‘Tora, Tora’ são bem pesados. Entretanto,
músicas mais recentes, como ‘Jaws’, soam ainda mais pesadas que essas -
principalmente pelas partes de bateria. Conte-me um pouco sobre o Caio
(baterista) e o que ele soma ao som do Raimundos.
Digão: O
Caio é o "achado", ele se adaptou muito bem as músicas antigas dando um
sangue novo e uma liberdade maior de composição. Além disso, o Caio traz elementos
novos e soma bastante pra banda! Na verdade, todos no Raimundos são muito ricos em
ideias e influências. Acho que esse próximo álbum vai vir bem
interessante, mas sem perder as raízes porque o xerife aqui não
deixa (risos).
Da esquerda para direita: Marquim, Digão e Canisso durante a gravação do DVD Roda Viva |
HM: Antes de tocar "Mas Vó", no DVD "Roda Viva", você agradece as pessoas que apoiaram a banda. Contudo, você também agradece a quem não acreditou no Raimundos! Como a descrença desse público fortaleceu a banda?
Digão: Somos movidos a desafios, quando subestimam a gente, nós subimos ao palco e mostramos que a história é outra, assim o gostinho do nosso trabalho é muito melhor...
HM: Nos idos dos anos 90, o Raimundos participou dos, hoje finado, Monster Of Rock. Ano passado, vocês tocaram no SWU - o mesmo festival que caras como Jerry Cantrell (Alice in Chains) e Phil Anselmo (Down, ex-Pantera) também estavam. Para você, como foi dividir o dia com músicos que são influência pessoal? Além disso, qual sua opinião sobre os atuais festivais de rock no Brasil?
Digão: O SWU foi o festival perfeito! Fiquei em estado de graça sendo vizinho de porta de Jerry Cantrell, ficar amigo dos 311... sem palavras! Apesar do horário, o show foi demais e o recado foi dado. Acho que os festivais atuais andam meio medrosos, com medo de apostar. Ficam colocando algumas bandas de gosto duvidoso e repetindo outras que acabam saturando tanto o público quanto a cena. Antes os festivais eram mais comuns e divertidos...
Digão em performance no festival SWU (2011), em Itu |
HM: Como é a relação do Raimundos com as novas formas de comercializar música? Digo isso porque em 2005 vocês foram um dos pioneiros, no Brasil, em investir no formato single digital. Além disso, o projeto com o Ultraje foi disponibilizado no iTunes.
Digão: Ainda existe "comércio" de música!? Mesmo que digital!? (risos) Além da saída do vocalista, que por si já foi muito prejudicial, houve a derrocada do mercado fonográfico que atrapalhou bastante o recomeço da banda. 2005 foi uma aposta precipitada e que, até hoje, não funciona. Infelizmente, o Brasil aprendeu a só baixar as músicas de graça. Acho que estamos fazendo o nosso trabalho direitinho nas redes sociais e se concentrando na estrada - é lá que a banda mostra a que veio! A mídia agora é só um detalhe, uma consequência de um bom trabalho voltado aos fãs que realmente gostam de boa música.
HM: Para encerrar, recentemente, pelo seu encontro com Rodolfo em um aeroporto no Paraná, os fãs especularam um possível retorno da formação original. Como você tem lidado, com essa eterna pressão do público e da mídia?
Digão: Esses boatos sempre aparecem quando estamos com boa visibilidade. Bem, queria saber de onde eles surgem. (risos) Daqui do nosso lado nunca partiu um convite pra que ele voltasse, mas sempre deixamos isso a vontade dele. Acho que o público perde tempo fazendo essa pressão: é como um cachorro fujão, quanto mais você chama, mais ele quer ir pra longe... (risos)
HM: Obrigado pela entrevista! Honestamente, é uma honra entrevistar um membro de uma das bandas responsáveis por me introduzir ao rock n’ roll. Fica aqui um espaço aberto pra você.
Digão: Adorei as
perguntas, fico feliz pelo espaço e espero outras entrevistas pra falarmos de
mais coisas no futuro! Grande abraço aos leitores do HANGOVER-MUSIC! Falou!
Site oficial:
http://www.raimundos.com.br/home/
Também publicado em:
http://whiplash.net/materias/entrevistas/160220-raimundos.html
http://www.raimundos.com.br/home/
Também publicado em:
http://whiplash.net/materias/entrevistas/160220-raimundos.html
Lembro ate hoje quando o irmão mais velho de um amigo me mostrou um k7 do 1º álbum dos caras,foi bem na época que saiu, eu tinha uns 12 ou 13 anos, ja gamei na hora...hehehe....pouco tempo depois começava as bandinhas com amigos, e foi muitos anos tocando Raimundos, era musica de todos os álbuns, sempre muito foda. Vi os caras ao vivo se nao me engano em 2001, fiquei na grade,parecia um louco, foi um dos shows mais foda que ja fui. Fico feliz dos caras estarem na ativa até hoje mesmo depois de uma "sumida" grande, e achei que o Roda Viva ficou muito bom. Parabéns pela (ótima) entrevista e que continuem assim.
ResponderExcluirCara, acho que deu pra perceber que foi meio emocionante pra mim fazer essa entrevista, né? Lembro de ouvir Raimundos muito moleque, no ínicio mesmo da coisa. (: Enfim, espero que gostem da entrevista.
ExcluirAí vai uma mini-história:
Lembro quando eu tinha uns 10 anos e estávamos em um ônibus, era alguma excursão ou algo do tipo. Haviam algumas garotas cantando Sandy & Junior, daí me juntei com alguns pirralhos e começamos a berrar ESPORREI NA MANIVELA. Tipo, gritando mesmo... e os professores lá revoltados/chocados. Uma das minhas lembranças mais antigas envolvendo a banda. Hahah
Raimundos foi simplesmente a primeira banda de rock que eu ouvi, e a porta de entrada pro metal que viria logo a seguir.
ResponderExcluirEsse novo projeto com o Ultraje é interessante, os covers do Raimundos costumam ser do caralho, até Fábio Jr na versão deles ficou bom, haha. Mas estou no aguardo mesmo é de um novo disco de inéditas a tempo.
tive uma banda cover de raimundos nos anos 90. era demais. a molecada pulava que nem doido. raimundos também foi a banda que me fez gostar desse tal de rock n' roll. muito boa a entrevista.
ResponderExcluirAcredito que Raimundos foi "a base" pra todo moleque que começou a tocar rock nos anos 90. Tive uma banda entre 1999/2001 (uma das que tocava Raimundos), acho que 85% do repertorio era Raimundos, criávamos musicas que eram descritas como "estilo Raimundos", meio que tudo girava em torno dos caras.
ResponderExcluirPosso hoje estar um pouco afastado da banda, mas quando pego um dos albuns pra ouvir, parece que volto alguns anos no tempo, é bom pra caramba.
Só uma coisinha... o Raimundos não tem apenas "mais de uma década de história". Na verdade, já são duas décadas de história!!!
ResponderExcluirSó da saída do Rodolfo, já são 11 anos (2001). No mais, a entrevista ficou excelente, meus parabéns!
Obrigado, cara!
ExcluirVeja bem,
a expressão mais de uma década inclui, automaticamente, duas décadas ou mais. Foi apenas um comparativo básico que não visava exatidão. (:
show, mto boa entrevista, e o Digão é o cara veey, a banda ta mto foda, Raimundos pode não estar bombado na Mídia como foi nas antigas, até pq as Tv's e os Radios hoje não dão valor as bandas de Rock, principalmente se for nacional, mais o som dos caras estão tão bom ou ateh melhor do que já foi naquela época.
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