segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Música: o estudo é necessário?

Em uma manhã ensolarada lá estava eu, no Sítio Histórico de Olinda (PE), prestes a realizar um de meus últimos trabalhos para a disciplina de Radiojornalismo - sim, curso Jornalismo. Talvez o fato  da atividade envolver música de alguma maneira - na verdade envolvia de todas as maneiras: tratava-se de uma matéria em uma Escola de Música - neutralizava meu suposto mau humor (recapitulando: acordar cedo, trabalho para faculdade, lugar longe de casa, ônibus...). 

Enquanto desenvolvia minha nobre função como repórter tive a oportunidade de, obviamente, interagir com jovens aspirantes a músicos,  e tal conversa despertou-me uma curiosidade sobre o modo de pensar, bastante peculiar, da maioria deles. Basicamente a ideia de existir músicos que tocam e criam músicas sem saber ler partituras soa abominável, ridícula, digna de pena. Isso me fez refletir sobre o estudo formal da música: será totalmente necessário ou dispensável?

Vejo o estudo formal da música como uma ferramenta extra para o objetivo final, que seria compor canções. Contudo, algo me impressiona entre, por exemplo, atuais apreciadores de música erudita que estudam formalmente. Porquê não existe uma grande quantidade de composições novas disponíveis? Estudar música apenas para executar obras alheias? Simplesmente não faz sentido, ao menos pra mim. Não consigo ver um real valor em músicos que "apenas" executam, como Andres Segovia - mesmo apesar de toda importância. Músicos como Bach e Mozart não frequentaram faculdades de música, por exemplo.

Lembro-me que eu e meu amigo - Alexandre, produtor da matéria - perguntamos a alguns estudantes se poderíamos registrar a execução, através da flauta doce, do hino de Pernambuco e, apesar deles conhecerem bem a música, sem uma partitura por perto não existia uma execução sequer aceitável. Uma relação de extrema dependência que vinha de pessoas que, pouco antes, menosprezam músicos que não haviam feito um estudo formal. Um tanto quanto estranho, não? Lembro de um trecho da conversa, algo próximo disso: 

- Minha irmã 'tirou a música de ouvido', mas sem nunca ter aprendido partituras. Reclamei e tomei a flauta dela para tocar apenas quando tiver aulas!

Será esse conceito certo?

Não quero pregar contra o estudo da música, pelo contrário: considero útil e, como já disse, uma grande ferramenta. Mas, penso que música tem de vir da alma, ser natural, caso contrário torna-se algo mecânico, chato e sem vida - tanto na execução quanto composição.

Também acredito que o músico que não consegue compor é incompleto. Existe uma gama de nomes que, com uma técnica razoável em seu instrumento e pouco conhecimento teórico, conseguiram criar músicas que emocionam pessoas. Você recorrer sempre a composições alheias é uma limitação grave. Para que estudou música? Para apenas tornar-se um robô emulador? Não consigo compreender isso.

A música precisa ser viva, sentida, natural - seja ela jazz, metal, sertanejo ou música erudita -, e sem isso não a estudo que resolva...

6 comentários:

  1. Dito!

    A imagem é bem legal.

    Lucas F

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Pra mim música vem da alma e compor é um dom.

    Ótimo Post!! concordo em genero número e grau,rs

    PS: Tu tens o Dom!!

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  4. Excelente post caro Thiago. Na minha opinião o saber ler/escrever música é um bónus. Verdade que facilita na hora da aprendizagem, mas se apenas vai usar esse dom para interpretar obras de Chopin, Mozart e etc, então considero um verdadeiro desperdício.

    Eu componho sem entender nada de formalidades da música, não consigo pegar numa pauta e ler e muito menos escrever o que eu componho.

    Acho deprimente quando peço a alguém para tocar algo e eles simplesmente respondem "Não posso, não tenho a pauta comigo". Ou então pessoal que estuda há anos e nunca compôs rigorosamente nada.

    Considero também essencial a capacidade de absorver a música e conseguir tocar ela quando quiser sem depender de qualquer lembrete para a memória. Defendo até que é um excelente exercício para o cérebro e uma óptima maneira de evitar Alzheimer lol

    Para finalizar, a música deve ser vivida e não levada a cabo como um trabalho ou uma tarefa a cumprir.

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  5. Camões, tu pegou o espírito da coisa... é praticamente assim minha forma de pensar.
    Teu comentário complementa bem o post (y).
    Ah, genial o lance do Alzheimer LOL.

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    1. Minha resposta a essa pergunta é a seguinte: depende.

      Isso porque, para criar uma sinfonia nos padrões eruditos é indispensável ter algum tipo de teoria musical. No entanto, concordo com as posições aqui expressas: teoria musical não é condição necessária, muito menos suficiente p/ compor/tocar boa música. O mesmo valendo p/ o virtuosismo.

      Eis uma passagem deveras elucidativa acerca disso:

      "Dave Brubeck tinha um estilo percussivo de tocar piano, sempre improvisava, ele não sabia e nem gostava de ler partitura, mesmo depois se cursar a universidade. Ele evitava aprender a ler durante as aulas de piano de sua mãe, alegando dificuldade de visão. Ele queria simplesmente compor suas próprias melodias e por isso nunca aprendeu a ler partituras. Na faculdade, foi por pouco expulso do curso, quando um de seus professores descobriu que ele não sabia ler partituras. Muitos outros professores o defenderam apontando seu talento em contraponto e harmonia, mas a escola continuou com medo de que isso pudesse causar um escândalo, e só concordou em lhe dar o diploma se ele concordasse em nunca dar aulas de piano."

      (http://pintandomusica.blogspot.com.br/2010/04/dave-brubeck.html)

      Não é que Brubeck não tivesse nenhum tipo de teoria musical, mas ele a adaptava aos seus desejos/interesses/idéias, ao invés de tornar-se escravo dela. Uma das coisas mais belas é ver um músico tocar com partitura ao lado/a frente, mas dispensando-a.

      Talvez por isso o jazz tenha se tornado minha paixão mor atualmente: pelo improviso =)

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