quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Entrevista - Nervosa: pretendendo inspirar garotas a tocarem

Orgulhosamente apresentada como uma banda feminina de thrash metal, a Nervosa vira a luz do dia na cidade de São Paulo, em 2010, visando produzir um som agressivo, rápido e direto. Ou seja, as diretrizes comuns ao thrash metal

Apesar de, por ora, não possuir nenhum registro oficial, o atual trio composto por Fernanda Lira (baixo, vocal), Prika Amaral (guitarra) e Fernanda Terra (bateria) tem atraído a atenção do público, principalmente, após o lançamento do clipe realizado para a faixa "Masked Betrayer". Bastante acessado no YouTube, inclusive rendendo ótimas posições no site, a boa receptividade do vídeo foi um dos primeiros passos para futuras aberturas de shows, participação em festival o "Roça N' Roll" , entrevistas e um contrato com uma gravadora internacional (Napalm Records) atualmente.

Em meio a grande atividade e prestes a lançar a primeira demo intitulada "2012" , conversei com Fernanda Terra e Prika Amaral que me contaram futuras pretensões musicais do grupo e como elas tem encarado os resultados positivos e negativos dessa movimentada estreia da banda. Ah, claro que o tópico de mulheres tocando música pesada não foi deixado de lado na abordagem. Enfim, confiram a conversa abaixo.


Hangover-Music: Apesar da Nervosa existir desde 2010, a atual formação tem menos de um ano. Levando em conta que vocês ainda não possuem nenhum material gravado em estúdio, o que essas recentes conquistas  significam pra vocês?

Fernanda Terra: Significa bastante e a gente dá muito valor! Bem, pelo menos eu não esperava esse reconhecimento todo tão rápido, mas está sendo super bem vindo e pretendemos tocar em todos os lugares que estão nos convidando para fazer shows.

Prika Amaral: Apesar da banda ser nova, estamos batalhando na cena há muitos anos. Já tentamos com outras bandas e, finalmente, conseguir tudo isso em pouco tempo é muito gratificante! É um sonho sendo realizado e por mais que aconteçam coisas ruins em nossas vidas, estamos felizes; afinal, a nossa essência é a música e estamos sendo reconhecidas por ela.

Fernanda Terra (baterista)

HM: O clipe da faixa ‘Masked Betrayer’ está obtendo uma excelente resposta por parte do público. Acho que pode ser apontado, inclusive, como responsável pela repercussão que a banda tem causado. Em meio as poucas composições que a Nervosa, por enquanto, possui; qual o motivo da escolha dessa faixa? O que ela representa pra banda? 

PA: Escolhemos a nossa música mais trabalhada e o que melhor simboliza a banda! Das três composições que gravamos, ela com certeza é a mais completa. Além disso, a "Masked Betrayer" representa o nosso melhor na fase atual.

FT: "Também acho que, até então, era a nossa melhor música. A letra representa muito pra banda, apesar dela ter sido escrita apenas pela Fernanda Lira (vocal, baixo). Digamos que não tem como não se identificar."



HM: Aproveitando, como foi a gravação do vídeo?

FT: Bem, ele foi gravado durante o carnaval de 2012 nas vielas e numa casa da Lapa pela produtora Metal Works...

PA: ...foi super divertido, mas foi elaborado em cima da hora! Decidimos no momento da gravação como representaríamos um traidor. Por não termos nos programado, apenas fizemos o trivial! Além disso, acabou ocorrendo uma coincidência: o bandido representado no clipe usa a camiseta do Brasil, mas nem reparamos isso! Só fomos perceber depois que recebemos críticas após o lançamento do vídeo. Pedimos para os atores irem com roupas velhas e o Junior (ator) foi com uma camiseta de um açougue que, por acaso, era  uma camiseta baseada na da seleção brasileira. Apenas na hora da gravação decidimos quem seria o bandido. No fim, nem notamos essa gafe!

Prika Amaral (guitarrista)

"Tem muita muita garota que curte nosso som e fala pra gente que estava faltando uma banda como a nossa - eu fico bem feliz com tudo isso; foi o que sempre busquei. Sendo vaidosa ou não, no fundo o que conta mesmo é a música!"         


"2012": primeira demo da banda
HM: O primeiro registro da Nervosa  (a demo) foi anunciada para março, contudo ela ainda não foi lançada.  O que causou este atraso?

PA: Algumas propostas foram feitas e estávamos e ainda estamos negociando. Em breve soltaremos uma nota com explicações e novidades. Bem, assim esperamos. 

FT: A demo terá três músicas gravadas - "Masked Betrayer", "Invisible Opression" e "Time of Death" -, canal por canal, no estúdio Mr. Som, em São Paulo. As faixas foram produzidas pelo Marcelo Pompeu e mixadas/masterizada pelo Heros Trench (ambos do integrantes do Korzus). Estávamos esperando uma resposta da Napalm Records - gravadora austríaca especializada em heavy metal -, pois não sabíamos se eles iam lançar a demo. Bem, não iria valer a pena porque a demo tem apenas três faixas e o custo seria 15 reais, ou seja, ninguém iria comprar! No Brasil, preferimos lançar a demo de forma independente e no fim do ano, pretendemos realizar um álbum de forma exclusiva pela Napalm.

PA: Ah, um detalhe que não foi falado: o nosso clipe estará na demo!


HM: No rock n' roll, de uma forma geral, uma banda formada apenas por mulheres  é algo bem raro. Imagino que reunir, especificamente, garotas com o mesmo interesse musical  - no caso, o thrash metal - torna essa 'missão' ainda mais complicada. Levando isso em consideração, quais foram as maiores dificuldades para a Nervosa chegar na formação atual?  

FT: Bom, eu levei 20 anos pra encontrar a Fernanda Lira e a Prika. Acho que essa resposta já diz o quanto foi difícil realizar a Nervosa e o quanto estou feliz por ter conseguido. No começo tudo que eu queria era ter uma banda só de garotas. Até achar a primeira interessada foi complicado, e ainda passei todos esses anos procurei meninas que quisessem fazer um som mais pesado. Só em 2010 achei a Prika; um pouco depois, a Fe.

PA:  Para mim, a dificuldade foi demorar mais de 12 anos até conseguir isso. Aliás, eu já tinha desistido - só animei quando conheci a Fernanda Terra. Prometemos a nós mesmas que seria a última vez que tentaríamos formar uma banda só de mulheres. Bem, até encontramos garotas que tocam bem, mas algumas não querem levar a sério ou não sabem compor músicas próprias... só querem tocar cover, aí não rola.

   
"Todas essas pessoas que acham que pagamos para tocar - ou qualquer coisa do tipo -, estão enganadas. No fim, todas essas acusações mentirosas, de certa forma, nos ajudam, pois causam uma polêmica e quem gosta da nossa música se movimenta pra defender a gente."         

HM: Algumas pessoas tem estranhado a rápida ascensão da banda dizendo que a música fica em segundo plano, e vocês tem chamado mais atenção por serem... garotas. Como vocês lidam com críticas desse tipo? Vou além, como tem sido a receptividade e tratamento da galera nos shows? 

FT: Ah, uma coisa que eu já aprendi é não encanar com essas coisas. Os shows têm sido o máximo por causa do público, principalmente. Por conta disso, procuro não me preocupar com os invejosos ou com quem não entendeu nossa música. 

PA: Preconceito existe, mas eu vejo o lado positivo, pois chamamos a atenção e isso, talvez, desperte a vontade de ouvir nosso som pra saber como é. Qualquer crítica que fazem pra gente é positiva, pois tem uma galera que defende muito a banda. Todas essas pessoas que acham que pagamos para tocar - ou qualquer coisa do tipo -, estão enganadas. No fim, todas essas acusações mentirosas, de certa forma, nos ajudam, pois causam uma polêmica e quem gosta da nossa música se movimenta pra defender a gente. Isso mantém a nossa audiência. É algo não proposital que, de certa forma, acontece de forma natural e acho legal..

FT: Tem muita muita garota que curte nosso som e fala pra gente que estava faltando uma banda como a nossa - eu fico bem feliz com tudo isso; foi o que sempre busquei. Sendo vaidosa ou não, no fundo o que conta mesmo é a música.


  

"Nos nossos shows, existem muitas garotas que se identificam com a gente. Acho isso muito legal e espero que a gente inspire o surgimento de outras bandas."         


HM:  Voltando ao som da Nervosa... Do pouco que pode ser escutado ele mostra, basicamente, influências de  thrash metal aliado ao hardcore e, em menor escala, o death metal. Vocês tem pretensão de, no futuro, ir além a esses gêneros - seja em uma faixa ou apenas em um álbum -, ou a proposta da banda já está selada?

FT: O som saiu natural assim, não forçamos em nada. Acredito que todas as músicas sigam sempre nessa pegada mesmo.

PA: Particularmente, gostaria de inserir algumas coisas, mas como um tempero apenas; a essência sempre será o thrash metal. Temos muito trabalho pela frente, novas músicas estão sendo feitas e temos muitas ideias, principalmente agora que entra a influência da Fernanda Lira, pois antes dela entrar as músicas já haviam sido compostas por mim e pela Fernanda Terra (baterista). A Fernanda Lira contribuiu compondo as letras para "Invisible Opression" e, como já dito antes, "Masked Betrayer".


HM: Bem, elas sempre existem nas bandas... como vocês trabalham as diferenças de gostos musicais na banda e no processo de composição em si?

FT: Putz, pode crer! A Fernanda Lira adora metal farofa e eu não gosto muito. Em compensação, eu gosto muito de punk e hardcore e ela não. Acho que é a maior diferença musical que há na banda. Mas claro, temos muitas bandas em comum e a Nervosa é a mistura dessas bandas. Sempre quis tocar Suicidal Tendencies por exemplo e com elas dá pra tocar. Nunca pensei que um dia eu ia ter uma banda de mina que quisesse tocar Slayer, pra mim é surreal - adoro isso!

PA: Somos livres de preconceito. O que vale é a boa música, não importa se é hardcore, heavy, thrash ou death metal será inserido na música porque é bom - isso é unânime entre a gente. Existe diferença de gosto, mas como somos três é mais fácil chegar em um consenso.    

Primeira formação, com duas guitarristas, da Nervosa

HM: O português se encaixa bem nas composições da Nervosa ou fica restrito apenas ao nome do grupo? 

FT: Queremos tentar tocar pelo mundo todo e a linguagem universal é o inglês. Levando em consideração que temos uma professora de inglês no vocal com pronúncia perfeita (Fernanda Lira)... não tem motivos de não ser em inglês. Prefiro que o mundo entenda nossa letra.  Mas, temos uma musica em português ("Urânio em Nós") e acho legal manter, pelo menos essa, pois acaba ficando exótico. Não vejo a hora de ouvir os gringos cantando “urânio em nós, urânio em nós” (risos).

PA: O português é ótimo para o punk e o hardcore, porém para o thrash ele soa um pouco estranho pra mim. Mas é legal experimentar e, por isso, ainda temos uma música em português. Nosso objetivo é que todos saibam do que estamos falando, então tem que ser em inglês. Ainda tem um outro fator: não seríamos tão reconhecidas agora se cantássemos em português, acho.

  
"(...) isso faz a cena não morrer. Hoje em dias as pessoas são muito cômodas, não querem sair muito de casa e acabam acompanhando tudo pelo computador."         


HM: Do ponto de vista da banda, como vocês avaliam o cenário para música pesada no Brasil?

PA: O cenário está melhorando. Tem acontecido um resgate do que um dia funcionou e rolou, mas ainda precisa de muito mais união, mais noção de preços e respeito entre diferenças de gostos. Enfim, respeito tanto pela música quanto pelo músicos. 

FT: Ah, eu estou satisfeita, pois temos tocado em muitos lugares bacanas e, também, tenho conhecido pessoas muito legais. Além disso, os shows estão sempre cheios. Quando vou pra assistir algum show, também sempre é bacana. Não tenho nada a reclamar.


HM: Bandas formadas apenas por garotas no rock pesado já existem um bom tempo, vide o Gilrschool e o Vixen. Porém, mesmo com o passar do tempo, a presença  feminina em bandas é, proporcionalmente a masculina, pequena.  Como vocês veem a contribuição das mulheres para no metal e rock?

FT: Em cima do palco, contribuiu pouco, né? Até hoje, temos poucas bandas, mas muitas gostam de verdade do som e comparecem aos shows. Acho bem importante, pois isso faz a cena não morrer. Hoje em dias as pessoas são muito cômodas, não querem sair muito de casa e acabam acompanhando tudo pelo computador. Para mim, isso é ser um pseudoheadbanger, pseudorocker, pseudo o que for. Nos nossos shows, existem muitas garotas que se identificam com a gente. Acho isso muito legal, e espero que a gente inspire o surgimento de outras bandas.

PA: Esse cenário está mudando e está cada vez mais misto. Mas isso não rola só na música, a mulher está conquistando o seu espaço aos poucos em vários aspectos profissionais, como por exemplo, você não via muitas mulheres dirigindo ônibus, ou sendo presidente, mas aos poucos isso está aumentando. Essa é a tendência...

HM: Para encerrar... E a Nervosa? O que vocês podem oferecer para esse seguimento?

FT: Músicas verdadeiras,  feitas com muita vontade! Espero que a gente inspire muita mulher a começar a tocar ou pelo menos começar a gostar de música.

PA: Podemos oferecer apoio e incentivo. Enfim, mostrar que é possível conquistar reconhecimento, não importa se somos mulheres ou não, se somos bonitas ou não.

  
HM: Obrigado por participarem da entrevista! Fica aqui um espaço pra vocês.

PA: Eu é que agradeço pelo interesse em nos ouvir e nos apoiar. Parabéns pelas perguntas muito bem elaboradas. E que todos apoiem bons músicos, mesmo que você não goste do som, gosto não tem a ver com apoio.

FT: Ae galera, vamos viver a cena offline também! Obrigada pela força que vocês tem nos dado!! E espero tocar em cada cidade onde esperam por nós. Valeu!


Site oficial:
www.nervosa.com.br
www.fernandaterra.com

Esta matéria também pode ser acessada em:
http://whiplash.net/materias/entrevistas/160884-nervosa.html




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2 comentários:

  1. Bem legal o som da banda, conhecia pouco, na verdade acho que só a faixa do clipe...hehehe. Mas vendo mais alguns videos pela net, ja deu pra ter uma ideia que o trabalho delas é serio,que tão correndo atrás mesmo e fiquei agora no aguardo dessa Demo pra dar mais uma conferida.

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  2. Curiosamente essa matéria foi enviada a, exatamente, dois anos de criação do blog! É, o tempo passa. Acho que demorei mais de um ano pra pegar gosto postando e conforme o tempo passa, torna-se cada vez mais complicado ler meus textos antigos...

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